Hanni
El Khatib, “Moonlight”, in https://www.youtube.com/watch?v=dn8Gu0St7zs
Hoje há eclipse do sol. O
sol, durante duas horas, entra em temporária decadência. A lua intromete-se e rouba
um pedaço ao sol. Ao menos é que vemos daqui, com os pés pousados na terra. Um
corpo pequeno (quatrocentas vezes mais pequeno) consegue povoar temporária
decadência no majestoso sol. Os eclipses são uma lição sobre a decadência.
Às vezes, julgamos,
imersos no húmus da pessoal miséria, que entrámos em decadência, ou que a
decadência nos consome hipotecando a vontade que deixa de ser nossa. Quando os
ventos sopram um ar agreste, julgamos que a decadência é uma estrada sem saída.
As mais das vezes, contudo, a decadência é um bastião que passa. E só não é
todas as vezes porque o envelhecimento leva-nos pela mão ao irrecusável decair
das forças e das possibilidades. Há quem se amedronte com a irrecusável ruína que
vem com o entorpecimento do corpo e do pensamento. Preferem a morte de um golpe
só, sem pré-aviso, sem caucionar a decadência por vezes lenta, que a
senescência se consome na indignidade. Das outras vezes, a decadência é a
prazo. Pode demorar, pode ser fugaz – mas é a prazo. E depende da perspetiva
que tomamos.
É como considerar que a
lua que invade o espaço do sol e fermenta um eclipse causou a decadência do sol
e um entardecer a destempo. O sol é quatrocentas vezes maior. A lua não tem
força para estropiar a estatura solar. É tudo uma questão de perspetiva, da
lente pela qual se toma o eclipse (ou o fermento da decadência): um eclipse só
é eclipse porque estamos na posição de espetadores, com os pés assentes na
terra. É uma ilusão de ótica. Fôssemos momentâneos astronautas em missão
espacial e do espaço não seríamos espetadores de eclipse algum.
Há um segredo para banir
os laivos de decadência que venham sussurrar ao pescoço: sonhar que somos
astronautas. Irmos à lua, num desprendimento tamanho que os pés levitem na
atmosfera. Pairando sobre os sobressaltos que possam instruir um qualquer farol
de decadência. Pois a única decadência que importa, é aquela que não tem
remédio. As outras, são um lagar que não oferta vinho que se veja. A decadência
depende da vontade que esvoaça por dentro de quem é convidado a entregar-se à
decadência.
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