5.3.15

Milénio


Einstürzende Neubauten, “Youme and Meyou”, in https://www.youtube.com/watch?v=6ulbK3tUMNg
Um milénio! A continuação dos archotes que incensam um sentimento, tomando os archotes como perenidade. Sabes? Não podemos desestimar o poder de algo que julgávamos impossibilidade. É só saber esperar, encontrar o outro hemisfério de nós na pessoa do outro e acender o sal do tempo com fósforos de ouro. Um milénio é apenas o convite a que outros, muitos milénios, venham atrás do tempo. Milénios a rodos, como expressão encantadora de um amor singular. Não precisamos de reacendimentos. Somos um fogo inextinguível, uma autoridade que só ampara o exemplo quando o vemos por dentro dos nossos corpos. Temos em nós a solenidade das flores que despontam nas árvores ao sentirem uma centelha de primavera. Na autoridade em que fomos investidos, somos exortações maiores, peitos cheios de orgulho pelas proezas que orquestramos em conjunto, olhos que se marejam quando preciso for, mãos que não deixam de estar entrelaçadas, um suor que transpira em uníssono, um feixe que vai e vem através do olhar e que dispensa palavras, mas também arquitetos de palavras que ficam imortalizadas como tatuagens abainhadas na pele dourada. Construímos um império de que somos habitantes únicos. Subimos ao mais alto promontório só para vermos o resto das coisas deitadas aos nossos pés. Tecemos poemas, somos donos de beijos extasiados, intérpretes de um almanaque das coisas indizíveis que fabricam o amor ímpar. Os milénios virão, uns depois dos outros. Nós como suas testemunhas, selando-os com tinta da china perfumada a rosas silvestres. Como se fossemos tutores da eternidade. Em manjares opíparos, bebendo vinho divino, embriagados com os lampejos de nós que sobre o outro irradiam, meneando as alcáçovas do tempo para ele vir quando nós quisermos e nos saciarmos com as suas oferendas no templo de onde ditamos as leis. O resto, é o que nos quisermos que seja. Pelos dedos ungidos a ouro, com uma coroa de flores recolhidas da primavera a alindar o teu cabelo, sem corar ao dizer que o amor é o maior tempero da existência.

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