Einstürzende Neubauten, “Youme and Meyou”, in https://www.youtube.com/watch?v=6ulbK3tUMNg
Um milénio! A continuação
dos archotes que incensam um sentimento, tomando os archotes como perenidade.
Sabes? Não podemos desestimar o poder de algo que julgávamos impossibilidade. É
só saber esperar, encontrar o outro hemisfério de nós na pessoa do outro e
acender o sal do tempo com fósforos de ouro. Um milénio é apenas o convite a
que outros, muitos milénios, venham atrás do tempo. Milénios a rodos, como
expressão encantadora de um amor singular. Não precisamos de reacendimentos.
Somos um fogo inextinguível, uma autoridade que só ampara o exemplo quando o
vemos por dentro dos nossos corpos. Temos em nós a solenidade das flores que despontam
nas árvores ao sentirem uma centelha de primavera. Na autoridade em que fomos
investidos, somos exortações maiores, peitos cheios de orgulho pelas proezas
que orquestramos em conjunto, olhos que se marejam quando preciso for, mãos que
não deixam de estar entrelaçadas, um suor que transpira em uníssono, um feixe
que vai e vem através do olhar e que dispensa palavras, mas também arquitetos
de palavras que ficam imortalizadas como tatuagens abainhadas na pele dourada.
Construímos um império de que somos habitantes únicos. Subimos ao mais alto
promontório só para vermos o resto das coisas deitadas aos nossos pés. Tecemos
poemas, somos donos de beijos extasiados, intérpretes de um almanaque das
coisas indizíveis que fabricam o amor ímpar. Os milénios virão, uns depois dos
outros. Nós como suas testemunhas, selando-os com tinta da china perfumada a
rosas silvestres. Como se fossemos tutores da eternidade. Em manjares opíparos,
bebendo vinho divino, embriagados com os lampejos de nós que sobre o outro
irradiam, meneando as alcáçovas do tempo para ele vir quando nós quisermos e
nos saciarmos com as suas oferendas no templo de onde ditamos as leis. O resto,
é o que nos quisermos que seja. Pelos dedos ungidos a ouro, com uma coroa de
flores recolhidas da primavera a alindar o teu cabelo, sem corar ao dizer que o
amor é o maior tempero da existência.
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