Interpol,
“Everything is Wrong”, in https://www.youtube.com/watch?v=Aw90St_8ek0
Há alturas em que parece
que tudo enferma de erro. De um erro sistemático, um vírus que contamina tudo o
que se mexe. Não é só o resto que padece do erro; o centro de nós mortifica-se
por tamanha desdita, parecendo que as resoluções tomadas se entregam nos braços
larvares das más consequências. Tudo parece quadrar com o erro. E mesmo quando
se julga, após tanta insistência no erro, que uma resolução está (desta vez)
talhada para a resplandecência, vem-se a saber que a aposta devia ter sido diferente.
A certa altura, a hibernação parece compensar. Ao menos não há decisões e, em
não as havendo, desaparece a probabilidade de erro.
Questão de ordem: o diagnóstico
do erro sistemático é fidedigno? Pode haver um vício de julgamento. Ou pode o
estalão da exigência ser tão alto que a demanda pela perfeição impede, à
partida, que as resoluções não esbarrem no erro. O erro passa a ser
sistemático. Ou, pelo menos, a perceção de que o erro é sistemático ganha raízes.
Em vez da capitulação,
que tanto pode terminar na hibernação como na habituação às decisões fadadas
para o erro, o imperativo é o questionamento de tudo. A começar nos padrões rotineiros
que medem o bem ou o mal que vêm com as decisões que se toma. É como se fosse necessário
mudar de lentes com regularidade. Para a análise se depurar os viés enquistados
que, de tanta habituação, podem embaciar a forma como se tira as medidas aos
atos.
O mundo à volta não é o
pior dos mundos possíveis, por mais que o ceticismo tenha feito tirocínio dentro
de nós. Não é caso para um céu perenemente plúmbeo, ou um tempo sem resgate da
chuva enfadonha, ou motejos inconsequentes que frustram o humor genuíno, nem
para a essência das pessoas ser naturalmente detestável. Há episódios destes,
personagens desta gesta; mas não se tirem conclusões apressadas. Se houver
capacidade (e vontade) para chegar a este método, a primeira conclusão é a da
impossibilidade do erro sistemático.
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