Jack White,
“Lazaretto”, in https://www.youtube.com/watch?v=qI-95cTMeLM
O vento que muda de
cambiante com o correr dos ponteiros do relógio é das proezas mais encantadoras
do tempo em sua muda. As coisas ganham outra espessura, são explicadas através
de outra lente, reinventam-se com o conhecimento que se apura, falam por
palavras diferentes mercê de uma criativa linhagem. É por coisas destas que não
entendo os conservadorismos, de diversa jaez, que nos enxameiam os olhos.
Algumas explicações aos petizes são devidas a juzante.
Ato primeiro: querem ser
patriotas, petizes? Exaltar a superioridade das coisas nacionais, desprezar o
que vem de fora? Saibam, petizes, que na modernidade que manda na batuta do
tempo têm de se alistar na esquerda radical. Os da direita, serventuários dos
interesses capitalistas, vendem a alma ao estrangeiro se supuserem que vão
embolsar gratificações materiais. A direita é, nos dias que correm, traidora
das nações. Aprendam com o frade Anacleto: o capital sem pátria é nefasto para
os novos oprimidos. Ergam-se, ó petizes, de braço dado com a esquerda radical
(ou o que sobrar dela antes de se esfrangalhar). Sejam patriotas.
Ato segundo: as alianças
que num outrora ainda recente se julgavam impossíveis. Inimigos que passam a
concubinato discreto. Há dessas alianças improváveis a rodos. Nas artes são
menos, porventura porque os artistas sentem dores na coluna vertebral. Mas
há-as na política, na economia, no desporto, nas relações pessoais, no trabalho.
Mudar o diapasão há de ser tido por um arejamento do espírito. E, não
despiciendo, se as alianças onde dantes havia inimizades servirem para as
aplacar (às inimizades), contribuem para a civilização.
Ato terceiro: as
cambalhotas pessoais. Aquilo que juramos jamais fazer ou dizer ou escrever ou
comer ou ver ou pensar. Aquilo que era um majestático desconhecimento e passou
a ver-se visitado pelo protagonismo. O que era tabu e o julgamento resgatou ao
sargaço dos preconceitos.
Ato quarto: a mudança.
Toda a mudança. Quando apetecer. Sem sequer tentar perceber porquê. Contra o atavismo
do tempo se ele se faz imóvel. Descartando todos os trunfos que, sub-repticiamente,
insinuem um conservadorismo qualquer.
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