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Juro que não perdoo à
brigada da patrulha de costumes que, por ocasião de mais uma manifestação soez
de costumes patrulhados, me pôs do mesmo lado do Iannis (o Varoufakis).
Ficaram todos excitados,
os da brigada, ao verem o Iannis mais a cara-metade escarrapachados numa
revista francesa, numa produção digna de revista cor-de-rosa. O mundo tomou
conhecimento dos hábitos burgueses do agregado Varoufakis. E depois? As pessoas
não têm direito aos hábitos que lhes aprouver? Dir-me-ão que a cara não combina
com a careta, que o Iannis é ministro das finanças de um governo de
extrema-esquerda (vá lá: “esquerda radical”) e que esta fação se abespinha quando
vê gente mais ou menos endinheirada a ostentar vícios burgueses. Talvez queiram
denunciar a incoerência entre a teoria (a retórica política) e a prática (o
modo de vida levado pelo Iannis). Quem lhes pediu, afinal, para serem a
patrulha das pessoais incoerências dos outros?
Iannis gosta de hábitos
burgueses. Vive num apartamento com uma varanda com vista para a Acrópole. Gosta
de vinho branco francês e de estética decoração quando amesenda com a consorte.
A dita cuja podia vir nas revistas cor-de-rosa. Ele toca piano (ou, pelo menos,
deixou-se fotografar com os dedos pousados sobre as teclas do piano enquanto a
cara-metade estava romanticamente sentada no seu regaço). E o mais que seja. E depois?
Iannis terá ganho dinheiro durante a sua vida profissional para ter acesso a estas –
digamos - excentricidades. Está no seu direito. Era o que mais faltava termos
perenes brigadas dos costumes a patrulhar costumes dos outros e a emparedá-los
contra as suas possíveis incoerências.
Que mal se diga, ademais:
entre os que vieram à ribalta, quais pudicas virgens ofendidas, estão muitos
que se incomodam quando os companheiros de ideias do camarada Iannis montam
soezes patrulhas aos costumes burgueses. Ou seja: ao querem denunciar uma
incoerência (do Iannis), eles próprios caíram na sua pessoal incoerência. Se não
admitem que a “esquerda radical” patrulhe costumes quando eles não quadram com
a ideologia e o modus vivendi
radical, põem-se a jeito do seu naco de incoerência se fizerem o mesmo que nos
outros deploram.
(Entretanto, o Iannis já
veio confessar arrependimento
pela produção vistosa para a Paris Match.
Devem ter sido as brigadas de costumes com ele aparentadas a exercer psicológica
pressão. A causa pode esmorecer com estas brechas no couraçado – admito que os
sacerdotes da moral da “esquerda radical” tenham sussurrado ao ouvido do pobre
e ingénuo Iannis.)
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