We Are Enfant Terrible, “Filthy
Love”, in https://www.youtube.com/watch?v=nwOkdAHBGGU
Dezembro já é hoje. O
natal não demora. E o fim do ano, também. Estamos nos alvores de um ano novo
que se promete melhor. Em rima com o deslumbramento dos tempos vindouros, a
alvorada mostrou um céu impecavelmente azul. As crianças exultam. Os adultos
não têm razões para andarem sorumbáticos. E até os velhos, dantes condenados à
desesperança, renasceram.
Os homens e as
mulheres são, agora, varões e pitonisas (respetivamente) da boa vontade. As
análises são um viveiro de prosa poética, reproduzindo em letra de forma a
felicidade que tomou conta das pessoas. Já não há insónias. Nem penumbras a
pesarem sobre os olhos cansados. Já não temos medo do futuro. Nem nos
intimidamos diante das promessas do futuro que são uma reinvenção da retórica:
são promessas garantidas antes do tempo, ajuramentadas por gente de bons
pergaminhos, gente que nasceu para aspergir a outra gente tanta com pétalas de
rosas perfumadas e um céu perenemente soalheiro. Já não há noite medonha, nem sons
guturais amedrontando o sono, nem nuvens carregadas que ameaçam dilúvios
mortíferos, nem aleivosias orquestradas nos gabinetes. Agora a maré é bondosa.
Agora é tempo de dizer agora, quando dantes as pessoas tinham saudades do
passado que fora magnânimo. Agora as cores estão todas na paleta à espera de
serem usadas, democraticamente usadas, pela gente que voltou a ter a mão na
autonomia.
O dia amanheceu
soalheiro. Está soalheiro por todas as horas que o compõem. Fica soalheiro até
quando dantes vinha a penumbra e o sol se encomendava à noite. Agora não há noite.
(Ou só há noite quando às pessoas apetece.) Agora metemos os dias tristonhos
nas alcáçovas da memória, guardamo-los para memória futura, para que não sejam
esquecidos a hibernação a que fomos aprisionados. O mundo soalheiro é um
viveiro de emoções desembainhadas. O esteio das pessoas na sua grandeza
infinita.
Não nos esqueçamos de
um agradecimento penhorado. Aos fautores de tanto sol que irradia em vez das
nuvens plúmbeas de outrora. Antes de sentirmos que o mundo soalheiro de hoje é um
aviso de receção do mundo penhorado de amanhã. O que vale, à análise
tremendamente poética, é que o amanhã pode não chegar a sê-lo. Até lá, o mundo
permanece soalheiro.
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