28.12.15

Os pensos são por conta da casa

Pancadaria. Muita. Ossos partidos. Balas disparadas que entram nos corpos que passam a cadáveres num instante, como se fossem apenas coisas.
Uma orgia de violência. Porque a espécie é violenta. Porque há maus adestrados na maldade e bons arregimentados para defenderem os inocentes das maldades dos primeiros. Tudo se congemina numa espiral de brutalidade. Não contam as palavras, que nem há tempo para as dizer. Os punhos, os pontapés, um interminável arsenal, as armas disparadas com precisão letal, a morte implacável e a brutalização do homem. Ao jeito dos filmes do Tarantino (com o detalhe do sangue que explode de um corpo crivado de balas, filmado em câmara lenta para prolongar a agonia na exata proporção do deleite do espetador). Desapalavrando tudo, para tudo ficar reduzido aos escombros da vileza dos mercenários e dos contra-mercenários que se consomem em autofagia. A frieza com que se mata, a pancadaria gratuita: sinais do esvaziamento da racionalidade que se julgava atributo da espécie.
Sim, somos animais. Como os outros animais, a quem destinamos o lugar inferior da irracionalidade. Em vendo bem as coisas, não sobressaem grandes diferenças. Dir-se-ia que o homem mercenário, o homem grotesco que vive no onanismo da violência, é a expressão da animalidade humana. Talvez seja condescendência. E talvez seja aviltante para os animais ditos irracionais, os animais no sentido literal da palavra, ter os violentos comportamentos do homem como a exibição da sua animalidade.
Os que temperam com moderação os excessos de violência de quem a comete, advertem tratar-se de uma minoria. Mas estas excrescências têm um efeito devastador quando se levantam na sua maré destruidora. Um punhado de endemoninhados com lições de artes marciais ou na posse de um farto arsenal cerceia a existência a uma multidão, como um tsunami que varre tudo sem contemplações, na lógica moderna de atalhar os meios em homenagem aos fins. Sobretudo inocentes que são apanhados no meio da tempestade, como vítimas colaterais. O pior é quando a violência desembestada vem consagrada em forma de arte.

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