Teho
Teardo & Blixa Bargeld, “A Quiet Life” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=TXUWjiY8fXs
Dos lençóis que são residência apetecível. Dos olhos
comprometidos com o amor sem rival. Das peças de teatro onde se reordena o
pensamento. Das paisagens visitadas em voragem de conhecimento – e das
cidades-metrópole, onde as línguas estrangeiras emprestam aroma à chuva e as
culturas medram em sua diversidade. Da música, simplesmente. Dos sonos
acomodados em palcos ecléticos, sossegados. Das peias que deixam de o ser,
determinadas pela vontade de que somos juízes máximos (porque juízes únicos). Das
rodas dentadas que atam os tempos diferentes, esquecendo o retrovisor (menos
para as lições de antanho que impeçam a recorrência de erros gratuitos). Das
amesendações fruídas em notáveis experiências de gastronomia. Do vinho que inebria.
Dos sentimentos emparelhados numa sintonia de silêncios. Das palavras singelas
que valem por mil idiomas. Do tempo passado sem pressa. Da avidez do
conhecimento, em plena função da cultura-húmus. Das caminhadas sibilinas onde
bebemos o mar diante dos olhos. Das promessas que não precisamos de
ajuramentar. Das peles adjuntas em coreografias que segredamos. Dos gostos
desalinhados e da retirada de importância ao mundo exterior. Da entronização de
uma janela como testemunho de um lugar idílico, onde o tempo se suspende entre
os dedos quentes e sedentos uns dos outros. Da cumplicidade que adestra um amor.
Da cumplicidade que adestra, ato contínuo, uma amizade singular. Do ombro, e da
sua largueza, como cais de abrigo quando dele há carência. Da crítica quando
ela é precisa como chamamento à dureza do chão que se pisa. Dos planos que se
fazem, nem que não sejam cumpridos na posteridade, só pelo prazer dos planos
deitados no estirador das intenções que emergem em consórcio. Da maravilhosa
sede de vida, com medo do envelhecimento, ou sem dele ter medo. Das cortinas
que se levantam entre duas interjeições metidas por sobressaltos que também são
ingredientes. Da justeza de tudo o que acharmos justo. Da imensidão do lugar
que chamamos às nossas mãos. Da intemporalidade de que somos tutores. Do hoje
que deixamos ser tradição de um tempo que queremos. Das rimas que cerzimos em
abastado estado de enamoramento. Da vida que sufraga a quietude, como se não
fosse mister do tempo despachar-se sob a batuta dos ponteiros de um relógio
atual. De uma vida serena. Serenada pela presença serena de quem se ama.
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