Savages, “I Am Here”, in https://www.youtube.com/watch?v=95MEmuHJfW0
Depois do muito mar tempestuoso: o porto franco. Cais generoso
que dá guarida ao corpo cansado a precisar de curar as cicatrizes. Num substabelecimento
temperado das almas enegrecidas. Na intermediação das pedras hercúleas que
protegem o porto franco das águas iracundas destemperadas pela desordem dos
elementos.
O corpo, cansado e com cesuras, abriga-se no cais
lodoso. Nunca águas pestilentas foram tão aguardadas. Nunca um lugar sombrio –
que o cais dentro do porto franco é um oráculo de sombras – foi tão contemplado
como festim de superação. Mas um festim discreto, em silêncio, sem exibições
ufanas que sinalizem a proeza, pois o corpo cansado e com marcas vivas da
torpeza do mar tempestuoso não se presta a tais cometimentos. É o contrário: celebração
silenciosa, desembainhando a profundidade de um sentimento devolvido a alguma
pureza.
O porto franco já não é só uma promessa que se não sabia
se podia ser arrematada. Já não é o temor de ser apenas uma miragem, quando o
dente furtivo do mar tempestuoso mordeu fundo na carne do pescoço e a sangrou abundantemente.
Já não é uma insegura imagem confundida com um sonho, um daqueles sonhos que se
não sabe se é sonho ou se os sentidos estão de atalaia. O porto franco é o
regaço que se espraia no domínio do olhar, quando o mar cavado se acetina num
leito espraiado ditado pela moderação dos elementos imersos em sua rebeldia. Do
porto franco recolhe-se a matéria fresca que se deita sobre as cicatrizes, um remédio
que vem a preceito para o corpo tão cansado e que já estava a uma légua de distância
da rendição.
Para uns, o porto franco é o lugar definitivo. Estão cansados
de tanta demanda, cansados de serem presas fáceis de um mar inescrupuloso. Para
outros, o porto franco é um lugar provisório, o cais onde se deitam para ser devolvida
novidade ao corpo. Não é o santuário que os resgatou à demência do mar. Faz-lhes
falta o mar vadio. Faz-lhes falta, depois de uma monotonia, meter mãos à obra e
derrotar o mar vadio que se vier a compor. Para depois virem ao porto franco resgatar
as forças e curar novas cicatrizes. Que essa é a sua serventia.
1 comentário:
Derrotar o "Porto fraco", é o verdadeiro sentido das pontes que a vida nos obriga a construir. É aprender a ser feliz, acreditar que merecemos o melhor.
Abraço cheio de amizade,
Alcino
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