Sigur Rós, “Varúð”, in https://www.youtube.com/watch?v=TCDGlGK2aaQ
E se tudo fosse fruído
vagarosamente? Com a devida apreciação do tempo consumido, para que não
houvesse a impressão que fragmentos do tempo se perderam entre os dedos. Para
ser permitida a devida contemplação, a função de trazer de entre as nuvens os
fragmentos que a observação apressada não permite agilizar. Não é indulgência
do tempo próprio da época estival, em que se concebe o tempo no seu
arrastamento, sem dele derivar a vertigem que tudo consome, nem um espelho
frenético que decompõe em parcelas avulsas o tempo que acaba por se esvair
entre as mãos.
Passamos tão depressa
por quase tudo que temos uma noção efémera da própria existência. É como se
vivêssemos dentro de um relógio apressado, um relógio que ditasse a entorse do
tempo e o fizesse transbordar das medidas acertadas pelas convenções. Às vezes,
julgamos que este é o critério imperativo porque uma vida é sempre
necessariamente breve (mesmo quando, para os padrões da duração da vida, é
longa).
Somos glutões. Do
tempo e do que dentro dele podemos fazer, ver, ler, visitar, experimentar,
contracenar nos sentidos. Queremos que tudo seja depressa. Numa avidez que
distrai os sentidos. Frequentemente, somos pouco mais do que espetadores
frugais. Estamos pouco tempo numa cidade desconhecida; passamos depressa por
museus; saltamos de lugar em lugar porque estamos ansiosos por conhecer muitos
lugares ainda desconhecidos; lemos depressa, porque a lista de leituras em
espera é obesa; temos conversas breves, porque somos devedores de conversas com
outras pessoas; enjeitamos a perseverança do tempo, mesmo quando admitimos que
o vagar é o método para reter as impressões que, de outro modo, são
superficiais.
Não aprendemos.
Continuamos remetidos à bitola da voracidade. E a desprezar o vagar que nos
traz conforto, que estende as baias mentais além das fronteiras imprimidas pela
normalidade. Soubéssemos distinguir as classes de acordo com a sua importância,
saberíamos que a qualidade rende mais do que a quantidade. Consagrar o vagar é
deixar emergir este princípio. Reconhecê-lo, mesmo quando depois as mãos
pragmáticas o retorcem, é um começo. Pois, tal como os idealistas do vagar
ensinam, tudo se faz devagar e com critério.
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