Cocteau Twins, “Crushed”,
in https://www.youtube.com/watch?v=Wgv08gsexfc
Imprestáveis movimentos
sísmicos. Não cuidava de mudar os esteios por dentro, a tinta apessoada tão
dura de digerir que não havia sobressalto que a conseguisse decapar. A todo o
momento, o corpo virava-se e, num ápice, estava na casa da partida. Todas as
cartas rogatórias propaladas pelo futuro eram incineradas numa pira. Ou, então,
era apenas para precatar a feição beócia, sempre difícil de desajustar do
vestuário à mostra, seu ingrediente imprescindível, herdada de outrem.
Havia promessas de
meter os pés por diante, por um diante qualquer, sem cuidar de saber, à partida
desde a casa da partida, onde seria o por diante demandado e o seu corolário. Uma
e outra vez, promessas desalinhadas, em vão os resultados. Um sedentarismo
existencial. A desarte de nunca sair do mesmo sítio, a desarte de não deixar de
ser o que sempre fora (mau grado as pequenas variações de personalidade,
atestadas pela permeabilidade aos muitos outros que passavam, vorazmente, pelo
seu horizonte).
Enquistado nas
estáticas barbas da existência, parecia um cão quando empreende furiosamente
contra a cauda que, notou a certa altura, teria vida própria: um terrível erro
de julgamento somado à linhagem beócia. Quando findava a perseguição à cauda
mundana, e quando julgava que tinha dado tantas voltas que quase uma inteira volta
ao mundo tinha sido medida, continuava na casa da partida. Com o mesmo
conhecimento de antes. Com a mesma nula visão de um mundo que não passava de
uma coisa muito periférica. Diziam-lhe alguns que devia cercear os freios que
vinham de força estrutural, força que se tinha por sua simbiose; que devia
caminhar usando os atos volitivos de que a sua individualidade era tutora. Mas
a pez impregnada, a tacanhez embebida nos mais profundo da carne, a viscosa
concatenação com o ser influente, eram o freio que o não deixava sair da casa
da partida, como se os pés estivessem hasteados ao chão, inamovíveis.
E diziam-lhe, em
remate, que continuavam a ajuramentar a sede de mudança. Para, enfim, poder meter
a mão na carta de alforria. Desligando-se da casa da partida. E medrar no
púlpito da vontade.
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