Rodrigo Leão, “No Sé Nada”, in https://www.youtube.com/watch?v=UCjV04YNqLk
A eito no promontório
dos atos irrelevantes. Nada conta. Tudo se desconta. A meio do caminho, caso
sangrem os pés por causa do caminho alterado, devem continuar a sangrar.
Segue-se sem parar, pela estrada sinuosa e cheia de forasteiros. Num propósito
de anulação; como se fosse possível despir-se de si mesmo e deixar-se continuar
nu, sem a sensibilidade inata, ou cuidando de simulações teatrais que omitem os
rudimentos que são matéria-prima da existência.
Dirão que é critério imperativo,
para a intransigência não travar a sensatez. Às vezes, desordenam-se os céus
compostos, as nuvens sobrepostas entretecendo as sombras que disputam a
amplitude dos sentidos. Põe-se um pé de vento iracundo, obstruindo as
capacidades, metendo achas vivas dentro de feridas que ainda cuidam de encontrar
uma cicatriz. Interpõem-se os desconvidados, gente néscia e ao mesmo tempo
insidiosa, espadas entontecidas que, todavia, são archotes gelados que atiram
bolas de fogo contra o glaciar secular. Os sentidos apurados, e a sensibilidade
sua filha, não conseguem consagrar a indiferença. O incómodo é produto da
consciência aberta, do sal deitado por cima das feridas e que trava as
cicatrizes demandadas.
Pede-se a anulação,
pelo menos de parte para não ser contumaz no amplexo que se impõe. E quanto é
preciso para caldear a anulação? Quantos são os fragmentos redesenhados que
devem pedir à dor para não doer? Por que expeditos caminhos se acha a anulação
requerida? A anulação exige a desimportância do ser que se mete na esquadria da
anulação. Os ocasos repetidos são uma importunação. Os dédalos por diante
compõem uma impura tergiversação. É como se o céu estivesse embaciado pelas
fagulhas vomitadas pelos incêndios e detivesse o firmamento dentro da insolência.
A febre interior
sobressalta os sentidos. Embacia a lucidez. Perturba a necessária anulação.
Tomara que tudo fosse mais fácil, por dentro das paredes apertadas de um labirinto
insondável. E, depois, sobra a pergunta derradeira: a anulação não despe o eu
que a ela se submete da sua genuína feição? Ou será a anulação o ato mais
grandioso – e, por isso, epopeico - que se apresenta ao ser?
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