Interpol, “Slow Hands”, in https://www.youtube.com/watch?v=LNBJSei0XV0
Elejam um assunto:
digamos, em matéria de gastronomia, tanto entendível como a arte de preparar
iguarias, como a expedita diligência para descobrir casas onde os repastos são
zelosamente preparados e o palato afirma o deleite em amesendar. Há sempre um
bispo, em representação, por sua vez, das sumidades embebidas em distinta erudição,
que é pulcro no Olimpo do conhecimento e destila farta e irrebatível ciência.
Em tratando-se da
preparação de iguaria, ai de quem proteste saber-se ungido de dotes superiores;
depressa leva com a negação da pretensão, mesmo que o bispo das sumidades não
tenha ainda passado a boca pelo repasto preparado por outro, dele nem sequer
admitindo que possa ser rival à altura na preparação do dito. Em tratando-se de
esquadrinhar a geografia em demanda das mais afamadas casas de pasto (fama,
contudo, só garantida com o penhor do bispo em apreço), ai de quem conteste o
mosaico constante da seleção e ofereça alternativas onde o cliente saia com
superior gratificação palatal. Não se admita tal despautério, pois as
credenciais ostentadas não se exibem por mero acaso, ou como produto de uma
qualquer soberba do dito bispo. (Ou, em caso de ser mesmo um exercício de
autoconvencimento, que ninguém tenha o topete de forçar o bispo a admiti-lo,
não vá uma apoplexia ser infortúnio do bispo protestado.)
Os mui letrados bispos
de coisas várias são de uma igualha só idêntica à dos piores próceres da
intolerância. Tomam-se de elevados créditos para se sobreporem ao conhecimento
dos outros, mesmo que, à partida, o seu conhecimento sobre o conhecimento dos
outros seja apenas um imenso desconhecimento. Espumando um acinte talvez
próprio de quem não sabe conviver com ideias diferentes, próprio de quem
despreza as virtudes de uma discussão aberta e sem o espartilho de estar à
nascença destinada a ter vencedor (a discussão).
Dir-se-ia que os
bispos, e o respetivo testa-de-ferro, se distinguem dos outros, os que querem
remetidos ao lugar de suseranos, pela adiposa dose de auto-estima em que se
banham. A julgar pelo diapasão certo, talvez seja o seu contrário: de gente tão
assertiva e tão diligente na obnubilação de quem lhe oferece réplica, dir-se-ia
tratar-se de gente torpe, frágil e com problemas de afirmação pessoal. Gente
que sobe aos píncaros de um espelho feito à sua medida e se julga possuída de
uma estatura maior do que a ausência do espelho revelaria.
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