17.8.16

Vigésimo-segundo mandamento: não transitarás pelos caminhos da ira


The Fall, “Big New Prinz”, in https://www.youtube.com/watch?v=wygQmJ59E4Q
Não deixarás que a má bílis das vísceras por ela responsáveis seja conselheira dos gestos teus. Não deixarás que sejam os pensamentos sombrios a levar o tapete onde assentam os pés. Não deixarás que ventos contrários sejam um percalço, porque terás em ti a linhagem dos fortes que sabem derrotar contrariedades. Não serás sopesado nos limites da desurbanidade, por mais que te peçam meças a esse propósito. Não serás desarbítrio da tua consciência em assomos iracundos que não têm serventia que não seja serem o de serem adamastores que locupletam a imagem ao horizonte. Não deixarás que incuráveis necroses alojadas alhures sejam involuntárias companheiras de sono. Não terçarás espadas espúrias que são devidas às necedades que deploras. Não te deixarás sitiar pela agnosia alheia, nem dela transportarás os rudimentos que fermentam uma fúria inútil. Não farás uso da cegueira alheia, se não para fortificar um módico de razoabilidade, da razoabilidade que se ameaça consumir nos vapores fétidos que (contra a vontade) te foram próximos. Não farás retrato para a posteridade das entorses à inteligência de que foste testemunha, pois não passou tal época do transitório. Não darás eco da estultícia nas viagens interiores que te sentes obrigado a empreender. Não darás guarida às contaminações do irrespirável ar de latrina que te foi sobranceiro. Não serás observador da ignomínia, que ela se pode contaminar ao teu estar. Não desenharás impropérios constantes, por imperativa homenagem ao idioma, devendo deles (impropérios) desdenhar. Não soçobrarás ao ímpeto de conferir importância às desimportâncias. Não ficarás perto do lodaçal onde campeiam os canhestros. Não serás penhor da ira, sob pena de se hipotecar a bonomia que julgaste habitar em teu ser. E amanhã, não deixarás de escrever texto de apologia a algo belo, a predicados elogiáveis, a pessoas que mereçam genuflexão, a uma paisagem prodigiosa, a uma exímia manifestação das artes, ou apenas sobre tema que não tenha agravo na tua pessoal consciência.

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