The Chemical Brothers ft.
Beck, “Wide Open”, in https://www.youtube.com/watch?v=BC2dRkm8ATU
Meter uma máscara. Não apenas no rosto, sobre o corpo
inteiro. Às vezes, dormir com ela, tão troantes as circunstâncias que obrigam a
vestir um carnaval que se mete por dentro do corpo, por dias a fio. Por dentro
de uma máscara, por imperativo de achar o palco onde se coabita com uma
teatralidade necessária. Onde temos de ser atores de uma estirpe diferente: as conjunturas
são porosas, convocam hábitos circenses (a única maneira de tolerar os impropérios
que, não fossem esses hábitos, seriam intoleráveis impropérios).
Fazemos de conta. Como se faz de conta nos carnavais
festivos. Sem haver qualquer coisa a festejar. Tudo o seu contrário: um desfile
de coisas grotescas contra as quais não podemos protestar, atento o demais. O povo
convencionou falar de batráquios deglutidos, sem um ai. Porque não somos ilhas,
em chegando o momento de habitar o território de que não somos os imperadores
de vontade, mas apenas uma das várias peças da engrenagem – e uma peça a que não
é tributada relevância. Porque não somos ilhas e não podemos – ou não devemos,
o que, para o caso, vai desaguar no mesmo resultado – ferir o manto de
autoridade investida.
Encontra-se uma saída: o dito palco circense, onde as
coisas e as palavras são pastoreadas com a leveza dos circos. Para ajudar na
função, a máscara que cobre o corpo inteiro. Pois com a máscara corporizada,
facilita-se a transfiguração exigível para ser parte integrante do palco
circense. Na posse da máscara, o território que se põe a jeito é carnavalesco. Tudo
se joga num tabuleiro onde, a páginas tantas, deixa de ser nítida a fronteira
entre o faz de conta e o resto. Como só contasse o faz de conta.
É o custo a pagar pela trivialidade carnavalesca. Talvez
um alçapão almofadado, onde o corpo não fica ferido quando lá aterra em queda. Ao
menos, por dentro de uma máscara, os ultrajes parecem disfarçados.
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