The Durutti Column, “Messidor”,
in https://www.youtube.com/watch?v=gNp-M8tDt5M
A rua, na manhã depois
de um fim de semana, na manhã que inaugura o ano escolar. Gente agitada com
rostos impassíveis. Gente meio adormecida, rostos acabados de sair da
hibernação. Gente apressada, rostos alarmados e passo acelerado. Automóveis
parados na fila para o semáforo. Automóveis que procuram estacionamento junto
ao portão da escola, sem se importarem, os respetivos donos, com as buzinas de
condutores impacientes que protestam.
Adolescentes que recomeçam
a escola. Estranhamente, rostos sorridentes em contraste com os rostos fechados
dos adultos que começam, contrariados, mais uma semana de trabalho. Dir-se-ia
que os adolescentes se fartaram das férias. Ou que estão ansiosos por voltar a
conviver com os colegas da escola. Ou, talvez, se vão conhecer gente nova. Não
sei se se poderia assegurar que os rostos sorridentes, e o ar em geral fresco
que ostentam, seriam correspondentes ao sentimento de contentamento de quem vai
em busca de saberes.
Na mesa do café, um
pai ensina à filha os segredos de uma máquina de calcular que, olhando ao
tamanho da máquina e ao aparato do teclado, seria uma máquina de calcular
técnica, sofisticada. Se calhar, o pai é engenheiro de uma coisa qualquer e deixou
em herança antes do tempo uma máquina de calcular que usara em tempos,
entretanto substituída por um gadget
com tecnologia mais avançada. O pai adverte a menina que há duas teclas que,
devido ao uso, precisam de cuidado no manuseamento.
A rua lá fora
continua agitada. É da hora. E do primeiro dia em que toda a gente, em
conjunto, disse adeus ao período estival. As pessoas estão com pressa para terem
a rotina de volta. A crer no que os rostos sinalizam, são reféns de um
paradoxo: apressadas para saírem da rua agitada, com urgência em voltarem ao
trabalho – como quem precisa do trabalho como se fosse o seu oxigénio; mas, ao
mesmo tempo, de rostos fechados, soturnos, entristecidos, cansados antes do
tempo, rostos de quem mostra que preferia a caução da inatividade. Não sabendo
por quantos rostos passam, a esta matinal hora em pleno bulício, de gente
desocupada que ostenta os mesmos rostos fechados, soturnos, entristecidos e
cansados antes do tempo, por não terem função a preceito.
Quantos dos rostos adolescentes
que contrastam com os rostos adultos contemporâneos mudarão de feição quando o
futuro tiver lugar no calendário, depois de eles deixarem de ser estudantes?
Sem comentários:
Enviar um comentário