Trentemøller, “Redefine”, in https://www.youtube.com/watch?v=fGaF2VUV2kc
Pretende-se uma afirmação contundente, que convença outra
pessoa. As palavras não podem ser escolhidas à toa. Demora-se o que for preciso,
ou talvez o desiderato ficará aquém do estimado.
Deve ser coisa importante, a que se mete em tratamentos
tais que o ardil se sopesa com vagar. É porque não se admite uma recidiva no
convencimento de quem se pretende convencer com as palavras ainda por inventariar.
O tempo passa. Para os apressados, os que levam o tempo fugaz na ponta da
batuta, a impaciência seria, por esta altura de arrastamento do silêncio, uma
inquietação maçadora. Mas a escolta das palavras certas sobrepõe-se a toda a
urgência que se possa postular. Deve ser coisa mesmo importante, a tal ponto
que se procura diluir o menor risco que possa causar a falência do objetivo.
Continua demorado, o silêncio – em parceria com a diligência
do pensamento, o seu lustro puxado ao máximo para que nada fique ao acaso: nem
as palavras ditas, nem as que ficaram escondidas na penumbra do silêncio. Convocam-se
as ajudas exteriores que forem possíveis. Na ausência de divindades que possam
ser conselheiras (irremediável, o ateísmo), ensaia-se um exercício de
exteriorização de si mesmo: é como se saísse de si para se ver do exterior. Ao mesmo
tempo, ensaia-se um oráculo que saiba pressagiar as respostas às palavras
comunicadas. Ensaiam-se cenários alternativos em palcos diferentes – é preciso
não esquecer que a pessoa que vai ouvir as palavras mordazes pode ter variações
no estado de espírito que ora a indispõem, ora a predispõem para as palavras
que vierem a ser proclamadas.
Tudo não passa de especulação. Não há ciência, não é
possível cerzir as pontas de um rigor matemático nas palavras ditas e escutadas
por outrem. Como é possível certificar que as palavras que vierem a ser ditas são
o penhor das palavras acertadas? O melhor é confiar no acaso. E confiar no que
se quer dizer, sem deter o tempo em improfícuos exercícios que metabolizam a
reação não provável (como seria aceitável, na impossibilidade de jogar com
certezas), mas a implausível reação vaticinada.
Se tudo fosse assim, com a ciência própria de uma
adivinhação inerrante, nada teria o condão de intuir a lógica ora
reconfortante, ora dececionante, da incerteza. O oitavo elemento é do domínio
da metafísica. Não tem serventia para as coisas tangíveis.
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