6.9.16

Oitavo elemento

Trentemøller, “Redefine”, in https://www.youtube.com/watch?v=fGaF2VUV2kc
Pretende-se uma afirmação contundente, que convença outra pessoa. As palavras não podem ser escolhidas à toa. Demora-se o que for preciso, ou talvez o desiderato ficará aquém do estimado.
Deve ser coisa importante, a que se mete em tratamentos tais que o ardil se sopesa com vagar. É porque não se admite uma recidiva no convencimento de quem se pretende convencer com as palavras ainda por inventariar. O tempo passa. Para os apressados, os que levam o tempo fugaz na ponta da batuta, a impaciência seria, por esta altura de arrastamento do silêncio, uma inquietação maçadora. Mas a escolta das palavras certas sobrepõe-se a toda a urgência que se possa postular. Deve ser coisa mesmo importante, a tal ponto que se procura diluir o menor risco que possa causar a falência do objetivo.
Continua demorado, o silêncio – em parceria com a diligência do pensamento, o seu lustro puxado ao máximo para que nada fique ao acaso: nem as palavras ditas, nem as que ficaram escondidas na penumbra do silêncio. Convocam-se as ajudas exteriores que forem possíveis. Na ausência de divindades que possam ser conselheiras (irremediável, o ateísmo), ensaia-se um exercício de exteriorização de si mesmo: é como se saísse de si para se ver do exterior. Ao mesmo tempo, ensaia-se um oráculo que saiba pressagiar as respostas às palavras comunicadas. Ensaiam-se cenários alternativos em palcos diferentes – é preciso não esquecer que a pessoa que vai ouvir as palavras mordazes pode ter variações no estado de espírito que ora a indispõem, ora a predispõem para as palavras que vierem a ser proclamadas.
Tudo não passa de especulação. Não há ciência, não é possível cerzir as pontas de um rigor matemático nas palavras ditas e escutadas por outrem. Como é possível certificar que as palavras que vierem a ser ditas são o penhor das palavras acertadas? O melhor é confiar no acaso. E confiar no que se quer dizer, sem deter o tempo em improfícuos exercícios que metabolizam a reação não provável (como seria aceitável, na impossibilidade de jogar com certezas), mas a implausível reação vaticinada.
Se tudo fosse assim, com a ciência própria de uma adivinhação inerrante, nada teria o condão de intuir a lógica ora reconfortante, ora dececionante, da incerteza. O oitavo elemento é do domínio da metafísica. Não tem serventia para as coisas tangíveis.

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