7.10.16

Brave new world

Sigur Rós, “Varðeldur”, in https://www.youtube.com/watch?v=_TsQ8lIkzzQ
De um estúdio sobranceiro à mais bela paisagem, debruçado sobre o mundo, como se fosse possível tê-lo no amplexo dos braços.
E dizia, em discurso metodicamente espontâneo, que tudo na sua igualha seria pontuado pela diferença. Um lugar heterodoxo, mesmo por fora das heterodoxias que, de tanto assim se proclamarem, depressa se investem em candidatas a ortodoxias – e depressa chegam ao desiderato de o serem. Um mundo abraçado pelas suas bainhas, na congeminação dos rostos límpidos, das palavras sem segundos sentidos nem entrelinhas ou interrompidos desaguares, dos espaços abertos sem buracos negros em forma de disfarçados alçapões, um lugar singularmente povoado pela névoa perfumada pelos odores sublimes. E ter a madrugada como madrinha modesta de uma partitura delicodoce, na coreografia dos dedos por harpas semeadas num jardim onde se dispunham os fragmentos da liberdade na relva imaculadamente verde. E depois olhar para o céu, onde o sol embaciado por uma fina camada de nuvens teimava em acenar um adeus que não era despedida, antes uma mnemónica estatutária para a coluna vertebral continuar retesada diante das adversidades. E as pessoas todas numa coletiva embriaguez de confiança mútua, sem ser preciso escrever regras impositivas em tábuas de pedra ou ditar proibições ostensivas.
Um mundo novo. Encantador. Cerzido com os olhos embebidos em curiosidade intelectual. Cheio de artes e sem pejo pelas artes. Destituído de medo. Um lugar onde todo o ar é respirável. Onde não há a sanha destruidora que deixa um vestígio de autofagia. Ao contrário: onde tudo é laivo construtivo, onde o único pessimismo permitido é o que consome o pessimismo por dentro da pele – como se, numa operação aritmética, a subtração dos contrários fosse sua anulação. Um mundo novo, opulento – na opulência de furtar sem temor tudo o que tem para legar.
Um mundo cheio de orgulho, onde as pessoas se deitam e depois do sono não sabem o significado dos pesadelos, por sua ausência na insubordinação do sono temperado pelas nuvens leves onde se deita. Num ribombar de tambores distantes, a chegarem desde um ermo para coroarem uma melodia edificante que só estava à espera de uma ossatura. Da ossatura firme onde ganham esteio os fundamentos de tudo.

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