You Can’t Win, Charlie
Brown, “Pro Procrastinator”, in https://www.youtube.com/watch?v=NTdxk9neyuQ
Uma cortina de sombras e um engano tremendo. A cortina
de sombras extinguia o olhar sereno que se requisitava para ponderações mais lúcidas.
Talvez uma chuva prolongada e intensa fosse a caução
desse intervalo heurístico. À procura de uma paisagem talvez perfeita. À
procura de uma geografia inexperimentada, como prova de vida ou então como memória
futura. Sem saber ao certo o que procurar, sem saber o que seria a demanda sem
um esgar depreciativo que convoca o lado oculto entretanto destapado. Pode ser
que haja um diamante singular entre a areia dominante. Pode ser que o deserto
seja apenas uma extensão da febril imaginação que desmata as camadas que se
sobrepõem num meândrico quadro de cores e formas.
Uma voz sem rosto sussurra, em surdina, que pode haver
quarenta maneiras diferentes de entender o quadro. Pelo menos. Talvez seja
melhor a quarentena do pensamento. Talvez seja melhor procurar desenhos da
simplicidade. Não: o pensamento não se tornou ocioso. Há alturas em que um
cansaço profundo, estrutural, é o autor da pilhagem da força precisa para
empreitadas árduas. Dirão, em forma de interrogação: não é crime meter um
severo bocado do pensamento em quarentena, deixando-o ao desbarato, num limbo
sem utilidade? Não será assim se, entretanto, o diamante singular for achado. Não
será assim se o olhar se encontrar com o pavio que é promitente desembaraço de
portas teimosamente fechadas, desencravando-as das fechaduras oxidadas pelo
desuso.
As mãos deitam-se à areia. Não importa que o sol esteja a
pino e faça um calor asfixiante. Entre o que não se deita na poltrona do
adiamento, está remexer na areia, o tempo que for preciso, para achar o único
diamante. Como se as mãos estivessem sedentas de mexer nas fundações profundas.
Como se fosse preciso um novo azimute que garante um esteio reinventado. O diamante
único presta-se à função. O diamante único trouxe um inesperado cumprimento: provou
que o amor não é injusto (como os prantos dos herdeiros do desamor não se
cansam de se condoer).
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