CocoRosie, “We Are on Fire”,
in https://www.youtube.com/watch?v=KwZx-udWuxI
Dizem que é um mito urbano (mas outros confirmam que está
por cima de qualquer mito): os artistas são extravagantes. Os mais
extravagantes. Quanto mais fama, maior a irreverência e as extravagâncias. Faz sentido.
São – se assim se pode formular – “escolhidos”. Pelo menos, escolhidos por um público
numeroso, a franquia para a notoriedade destes artistas. Como são um escol, têm
de pautar a vida por parâmetros heterodoxos. Os exemplos são a rodos.
Um exemplo fresco: Madonna
prometeu sexo oral a quem votar em Hillary Clinton nas eleições presidenciais
dos Estados Unidos. Sendo certo que os estrategas do marketing político, e
em especial os que arquitetam o marketing eleitoral, procuram fórmulas
inventivas para captar o voto do eleitor, julgo que é a primeira vez que uma
figura pública aceita pôr-se ao serviço de uma campanha eleitoral com tanto –
como dizê-lo? – desembaraço, desprendimento e generosidade.
Ao ler o que Madonna prometeu, fui assaltado por várias dúvidas
que deviam ser endossadas à artista. Primeira: a oferta tem prazo de validade?
Segunda: como se comprova o direito à oferta: através de fotografia do boletim
de voto provando a escolha “acertada”, ou chega a confiança na palavra do
eleitor candidato às delícias oferecidas? Terceira: como se define a validade subjetiva
da oferta: é só para eleitores que, confrontados com a voluptuosa oferta,
mudaram o sentido de voto, ou também é válido até para quem nunca teve dúvidas
em votar na senhora Clinton? Quarta: como será concretizada a oferta: um número
máximo de atos por dia? Um sorteio entre os candidatos, pois não se antevê como
poderá a artista dar seguimento a tantos potenciais milhões de votantes da
senhora Clinton? E, neste calendário de delícias carnais, será estabelecido um tempo
máximo para a concretização dos prazeres (sob pena de a artista ter de
trabalhar vinte e quatro horas por dia, o que podia configurar escravidão
sexual)?
Se a moda pegar de estaca, a cartografia das eleições
pode sofrer uma revolução. Se a senhora Clinton for eleita, não se livra do patético
rival se lembrar de impugnar as eleições com o argumento da batota induzida por
Madonna. (E, uma vez mais, não se livra do estigma do fellatio – agora como foi dantes com o consorte, de quem poderá ser
sucessora. Má sina!)
O que vale, é o poder simbólico da semântica. Se não,
nem queremos imaginar o cansaço geral da dona Madonna.
Sem comentários:
Enviar um comentário