Trent Reznor & Atticus Ross, “A Minute To Breathe”, in https://www.youtube.com/watch?v=wwwQ4uVGGSE
Que não te importem as dores das almas que não se sentem
por dentro de ti. Desarma as cruas imagens que determinam as lágrimas ágeis. Desarma
as estopetas desembainhadas, as que se preparam para um jogo soez de danos em
corpos outros.
Deixa de lado a ufana soberania que traz a altivez em
ponto de mira, sob o nariz levantado ao céu em forma de cartão de visita que
ostenta credenciais – e sobranceria. Pois a todos é dada a simplicidade da
existência; se todos somos reduzidos a pó quando deixamos de contar: que serventia
têm as exibições de orgulho agastado, até as que porventura tenham esteio numa
sementeira desse orgulho? À noite, quando dormimos, dormimos todos. Não por
igual, decerto, que uns têm sono fácil em contraste com os que são apavorados
por insónias obstinadas – e uns deitam-se em sonhos fartos enquanto outros se apoquentam
em pesadelos medonhos. Mas todos dormimos. Todos respiramos. Todos temos impressões
que são a caução de uma certa disposição.
Entendendo este quadro geral das coisas em redor, não é
bom pergaminho seres vaidoso das proezas que vierem a teu regaço – das tangíveis
e das imaginárias (menos aceitáveis as últimas, quando chega o momento de puxar
lustro ao húmus das proezas). Cultiva a modéstia. Dispensa os encómios. Mesmo que
a dispensa ofenda quem quis ser gentil.
Na hora certa, alvitra uma bandeira cheia de lhaneza. A bandeira
vertical com as cores que aprouver. Uma bandeira só tua, sem te ser dada a
pretensão de a hastear nos mastros que correspondem às bandeiras que aos outros
assiste hastear. E depois, experimenta o mar que se compõe no entardecer;
dedilha as páginas de um livro de poemas e escolhe um ao acaso para ofereceres à
pessoa amada; desaprova as irritações que embaciem a aceitável disposição;
sintoniza uma música que de repente subiu à recordação; mete as mãos na água do
rio e sente o seu frescor sobre o rosto; veste as roupas que te apetecer; cobre
as cortinas com o ouro do teu habitar; entoa as palavras que subirem pela mão
em irrefreável movimento espontâneo.
Em ato final, não esqueças de hastear a tua soberania em
bandeira lhana. E não esqueças de a manter assim hasteada.
Sem comentários:
Enviar um comentário