The Rapture, “It Takes Time
To Be a Man” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=YCtvbRXCAj4&spfreload=5
Leva tempo a tudo se conseguir. Leva tempo a alguém se
fazer homem. Para alguns, é ainda preciso (dizem) passar por provações que
conferem a masculinidade plena: ir à tropa; ou viver sozinho para aprender a
fazer as costuras dos dias quando eles se sublevam. (Só para enunciar uns
exemplos.)
O tempo não é bom conselheiro dos homens que se julgam
homens e não o chegam a ser: porque o tempo passa depressa e os homens que não
se fazem homens não dão conta da pressa do tempo. Covardes. Néscios. Narcisistas.
Os que constantemente se promovem a um pináculo de onde ostentam uma aura de
superioridade e, todavia, desfilam em miserável pequenez de si mesmos. Não é homem
quem ambiciona sê-lo. São homens os que rimam o crescimento do corpo com o
crescimento interior. Os que não se incomodam com fantasmas espúrios. Os que
conseguem saber as fronteiras em que medram, sem pretenderem sair das medidas e
serem alguém fora dos seus limites.
Não o conseguem. E nem conseguem ser (alguma coisa que
se veja) nos limites que lhes são conferidos. Ficam pela metade. Gente meã,
comezinha, mesquinha. Gravitando numa fralda pueril que julgam pô-los a coberto
das grandes maquinações que o mundo lá fora congemina. Pois é preciso proteger
os homens futuros de um mundo sarcasticamente selvático, onde não há código de
honra nem otimismo que seja seu ingrediente. E depois, quando finalmente se
entreabre a porta da gaiola, nem que seja num instante de distração, e o homem
que custa a ser homem espreita o mundo lá fora, depressa cai nos ardis que não
intui. Não chegou a desprender-se da meninice. Não chegou a aprender o que
tinha de aprender para levar de vencida as contrariedades que vêm de vento em
popa.
Desarticulado das póvoas nada edificantes que emprestam
o odor pestilento às ruas, o homem a quem não deram tempo para aprender a sê-lo
enfastia-se com o absurdo. Tivessem nobilitado a alforria do ser. Teriam sido
homens a tempo.
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