Nitin Sawhney (feat. Nicki Wells & Ashwin Srinivasan), “Nadia”, in https://www.youtube.com/watch?v=mkmnBMxK29Y
Para que serve a filosofia? Para que serve, se não para
retirar o véu escuro que se forma diante dos olhos quando os mesmos recusam
ideias, ou não deixam rever as ideias por onde transitam, ou não deixam interrogar
essas mesmas ideias sobre os seus fundamentos.
A filosofia serve para destruir a efervescência que
emascula as ideias, como se elas fossem à prova de interrogatórios. Serve para
não ter vergonha de tergiversar no altar das ideias que, a certa altura, passam
soar a ideias feitas. Serve para raspar o verniz das coisas, para as ver por
baixo do que elas mostram. Serve para se aprender a fazer perguntas. As
perguntas que vierem a propósito, as singelas e as complexas, as que não tiram
o sono e podem ser revelações, as que não se tencionava formular antes de todos
os questionamentos telúricos. Serve para esquadrinhar o húmus à procura de
camadas mais fundas. Serve para terraplanar as ideias. Para retirar a camada de
inertes que as deixam mergulhadas num atavismo qualquer, mesmo que sejam ideias
profusamente tidas como modernas; pois o que interessa não é a
contemporaneidade das ideias aos olhos outros, não importa o seu juízo feito
por fora de quem as concebe.
A filosofia serve para atirar as questões para cima da
mesa. Não vem ao caso saber se são as interrogações certas, ou se erram o alvo
por defeito. O que conta é a capacidade para aprumar as interrogações que
abraçam o pensamento ao fuso onde gravita o movimento perpétuo que nos obriga a
não estiolar no sopé da inércia. Serve para continuarmos a ser. Sem remorsos,
sem juízos de moral, sem placagens do tempo pretérito, sem combates teimosos
com os fazedores da razão, sem reservas mentais, sem resguardar o reduto das
ideias. A filosofia não serve para uma ostentação para o exterior de nós; desse
modo não passa de exercício de vaidade espúria, uma erudição ostensiva que não
cuida das fronteiras por dentro.
A filosofia é um ato individual. Com a ajuda dos filósofos
conceituados, dos filósofos com que aprendemos, dos filósofos de que acabamos
por discordar (pois também aprendemos com as ideias de que discordamos). Ou através
da sua mais simples manifestação: a de tudo questionar, em diligente ensimesmar,
num constante movimento de insatisfação com as respostas propostas na seiva de
cada interrogação anterior. A filosofia serve para não desaprendermos de
formular perguntas.
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