World Domination Enterprises, “Asbestos Lead
Asbestos”, in https://www.youtube.com/watch?v=D1rrGuya3M8
O tio dandy
ensinou-lhe a andar apessoado. Havia rituais a cumprir. Roupa que nunca
combinava (fato às riscas com camisas aos quadrados). Cores que não deviam
quadrar na indumentária (o verde e o azul, legitimando o preconceito
consabido). As calças, impecavelmente engomadas. O mesmo para as camisas. Um homem
decente não pode dar parte de fraco naquilo que é a sua linhagem. Num certo
sentido, o tio dandy podia ser um
guru da moda – não fosse a moda contemporânea mover-se por caminhos que eram do
desagrado do tio dandy.
O sobrinho amealhou os ensinamentos. Nunca o viram com
calças de ganga, que a ganga era a fazenda fraca. Estudante, sempre envergou
casacos de tweed. No colégio não fez diferença:
os outros meninos, confirmando a educação britânica, iam para a escola de blazer. Quando entrou para a
universidade, o sobrinho aspirante a dandy
começou a dar nas vistas. O ambiente era informal. Dominado pelo pensamento
libertário que os corredores da universidade guardaram dos tempos do maio de
68. Ele era motivo de escárnio. Foi remetido ao isolamento. Nunca se importou
com o estatuto de exílio interno nem com as anedotas que sobre ele se contavam.
Não fora para a universidade para socializar (disse-o uma vez numa altercação
com alunos veteranos, o que lhe custou uns encostos dissuasores e mais algumas
palavras de troça).
Já feito gente e senhor do seu destino, começou a ler
uns livros heterodoxos. A ouvir música fora do contexto. A dar-se com gente que
faria corar de vergonha as numerosas tias que eram visita da casa para o chá
das cinco. Gente que desdenhava dos que, na universidade, se auto proclamavam
vanguardistas. O sobrinho dandy
ultrapassou os antigos colegas da universidade na audácia e na irreverência.
Um dia, chegou a casa a más horas. Parecia embriagado. A
mãe esperava-o diligentemente e com o telefone na mão, ansiosa, à espera de más
notícias a qualquer momento; o seu menino nunca fora de noitadas fora de casa e
não era agora, já trintão, que se ia abraçar a maus hábitos. O rapaz chegou
intacto, mas ébrio. Trazia umas calças rotas. Logo soaram os alarmes. A mãe
perguntou se tinha caído, se tinha sido uma peleja, o que explicava as calças
rotas. E o sobrinho dandy respondeu,
negligente e cheio de sono, com a língua entaramelada no álcool a mais, que
eram as calças com que tinha saído de casa.
O tio dandy,
fosse vivo por estes dias, orgulhar-se-ia da ousadia meteórica do sobrinho. Ser
dandy era um ato de liberdade
irreprimível. Essa fora a lição maior que aprendera do tio dandy.
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