24.11.16

Manifesto pelas pilosidades masculinas (parece um manifesto marialva, mas não é)

TV on the Radio, “Careful You” (live at KCRW), in https://www.youtube.com/watch?v=IObNkVR_bOg
Quem frequenta ginásios esbarra em corpos masculinos nus quando o balneário tem de ser. Não se pode evitar. Não se pode usar uma venda nos olhos, para não cair no risível. Noto, com o passar do tempo, que se tem vulgarizado a moda (por assim dizer) dos corpos masculinos despidos de pelos. É um fenómeno transversal a idades diferentes – para não se pensar que só aos mais novos e com propensão para os modismos é que tal deposição de pilosidades é notada.
Ouvem-se conversas sobre o assunto. Há dias, um homem já sexagenário (porque fez questão de revelar a idade) trocava impressões com outro enquanto observava o tronco nu ao espelho e o outro fazia a barba. Apanhei a conversa a meio. O sexagenário confessou: “ao início, custou-me rapar os pelos do peito, mas agora estranho quando começam as crescer os pelos. Já me habituei a estar sem pelos.” Custa-me a posição de conservador, porque tenho alergia a conservadorismos. Neste caso, quero acreditar que a natureza tem alguma razão (logo, que não é defeito de conservadorismo). Se somos condecorados com uma tela pilosa que cobre certas partes do corpo, não terá sido resultado de um método aleatório nem por capricho de quem encomenda os cânones da biologia. Haverá motivos funcionais: os pelos como proteção contra elementos agressores que podem desconfigurar o equilíbrio do corpo.
Os metrossexuais e os outros que o não são, mas aderiram à moda do pelo zero, dirão que se movem por critérios estéticos. Outros invocam a higiene. São critérios, como quaisquer outros. Deste lugar, avesso aos conservadorismos e adepto das liberdades sem peias, só posso afirmar que a cada um cabem as decisões soberanas sobre si mesmo, o que é válido para as decisões do corpo também. Quando me insurjo contra o varrimento de pilosidades corporais, limito-me a uma proclamação individual. Os pelos estão no lugar sem que tenha sido eu a pô-los lá. (Por esta ótica, teria razões filosóficas de sobra para os depor, pois se a decisão do seu mapeamento corporal não me pertenceu, não estaria a violar nenhum procedimento interno se deles abdicasse).
As minhas razões são também estéticas. Em não vendo causalidade higiénica que suponha a sua intempestiva ablação, movo-me apenas pela (in)estética que sopeso ao supor a hipótese da eliminação das pilosidades corporais. O que faz de mim algo que me enche de orgulho: metrossexual não serei.

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