TV on the Radio, “Careful
You” (live at KCRW), in https://www.youtube.com/watch?v=IObNkVR_bOg
Quem frequenta ginásios esbarra em corpos masculinos nus
quando o balneário tem de ser. Não se pode evitar. Não se pode usar uma venda
nos olhos, para não cair no risível. Noto, com o passar do tempo, que se tem
vulgarizado a moda (por assim dizer) dos corpos masculinos despidos de pelos. É
um fenómeno transversal a idades diferentes – para não se pensar que só aos
mais novos e com propensão para os modismos é que tal deposição de pilosidades é
notada.
Ouvem-se conversas sobre o assunto. Há dias, um homem já
sexagenário (porque fez questão de revelar a idade) trocava impressões com
outro enquanto observava o tronco nu ao espelho e o outro fazia a barba. Apanhei
a conversa a meio. O sexagenário confessou: “ao início, custou-me rapar os pelos do peito, mas agora estranho quando
começam as crescer os pelos. Já me habituei a estar sem pelos.” Custa-me a
posição de conservador, porque tenho alergia a conservadorismos. Neste caso,
quero acreditar que a natureza tem alguma razão (logo, que não é defeito de
conservadorismo). Se somos condecorados com uma tela pilosa que cobre certas
partes do corpo, não terá sido resultado de um método aleatório nem por
capricho de quem encomenda os cânones da biologia. Haverá motivos funcionais: os
pelos como proteção contra elementos agressores que podem desconfigurar o equilíbrio
do corpo.
Os metrossexuais e os outros que o não são, mas aderiram
à moda do pelo zero, dirão que se movem por critérios estéticos. Outros invocam
a higiene. São critérios, como quaisquer outros. Deste lugar, avesso aos
conservadorismos e adepto das liberdades sem peias, só posso afirmar que a cada
um cabem as decisões soberanas sobre si mesmo, o que é válido para as decisões
do corpo também. Quando me insurjo contra o varrimento de pilosidades corporais,
limito-me a uma proclamação individual. Os pelos estão no lugar sem que tenha
sido eu a pô-los lá. (Por esta ótica, teria razões filosóficas de sobra para os
depor, pois se a decisão do seu mapeamento corporal não me pertenceu, não
estaria a violar nenhum procedimento interno se deles abdicasse).
As minhas razões são também estéticas. Em não vendo
causalidade higiénica que suponha a sua intempestiva ablação, movo-me apenas
pela (in)estética que sopeso ao supor a hipótese da eliminação das pilosidades
corporais. O que faz de mim algo que me enche de orgulho: metrossexual não
serei.
Sem comentários:
Enviar um comentário