The Jesus and Mary Chain, “Just
Like Honey”, in https://www.youtube.com/watch?v=7EgB__YratE
Diziam, no ministério, que ao jovem diplomata estava
prometida carreira exemplar. Por onde passara sempre se mostrou exímio negociador,
uma mente acima da média que soube contribuir, em momentos especiais, com
ideias fora da caixa que trouxeram dividendos ao interesse da nação. Os líderes
tinham-no em boa conta – só de saber que os líderes sabiam o seu nome, e as
boas razões pelas quais dele tinham conhecimento, era auspicioso. Na carreira
diplomática não havia ninguém que tivesse subido tanto e tão depressa. Se os
ventos soprassem de feição, subiria a embaixador na próxima rotação dos
embaixadores. Tornar-se-ia o mais jovem embaixador na história do país.
Antes de ser embaixador, já metia no estirador planos
mais ousados: haveria de chegar a ministro dos negócios estrangeiros, teria uma
palavra sozinha na diplomacia do país. Sabendo-se o menino bonito do regime, a
quem eram pedidas opiniões sobre os negócios externos (sem que os outros
embaixadores pudessem saber), o jovem diplomata continuou a esmerar na providência
solicitada. Parecia que tinha um oráculo escondido. Parecia adivinhar o futuro,
muitas vezes contra os presságios (de ordem contrária) de diplomatas experimentados
e do próprio ministro da tutela. Os líderes tinham especial consideração pelo
jovem diplomata quando souberam que ele tinha suavemente dobrado o braço dos
diplomatas dos outros países com os quais um acordo internacional estava em cogitação.
Estando as negociações a correr mal para os interesses da nação, o jovem
diplomata virou o jogo ao contrário com uma jogada de mestre que desarmou os
outros. Houve quem dissesse que o jovem diplomata conseguiu hipnotizar os
representantes dos outros países, de tal maneira os convenceu a assinar um
acordo que era muito favorável para o país do jovem diplomata.
Anos mais tarde, soube-se que o jovem diplomata (já
ex-ministro dos negócios estrangeiros e exilado num país outrora amigo, mercê
do golpe de Estado que depôs os tiranos que o acoitavam) era um génio da informática.
Ele conseguia, sozinho em consecutivas noitadas servidas a substâncias ilícitas,
descobrir os segredos de Estado dos outros países e os podres em que medravam
os diplomatas sentados do outro lado da mesa das negociações. Tinham-se
enganado na missão. O jovem diplomata devia ter sido recrutado para os serviços
secretos. Nunca teria chegado aos néones ministeriáveis, as proezas teriam
ficado na sombra do conhecimento, seriam mais úteis aos interesses da nação.
O outrora jovem diplomata não conseguiu sucumbir à usura
da ambição. Não soube praticar as estafadas lições de ética de um velho e
desenganado professor na universidade canadiana onde estudara. O outrora jovem
diplomata converteu-se aos cânones da bondade. Agora era consultor de uma
empresa de informática que produzia software
antivírus e mecanismos que preveniam a intrusão em computadores pessoais. O que
nunca se soube é que o outrora jovem diplomata continuava a ter um lado oculto,
deambulando pela antítese da bondade que a sua feição visível ostentava. Nos tempos
livres, e na retaguarda da sombra mais impenetrável, fabricava vírus informáticos
opulentos e artimanhas requintadas de espionagem informática.
Sempre fora a sua maior especialidade: jogar nos dois
lados do mesmo tabuleiro.
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