Warpaint, “New Song” (live
at Later with Jools Holland), in https://www.youtube.com/watch?v=tRU4gXdwhT4
Bricolagem das almas: teremos de andar com chave de
parafusos a tiracolo para remediar interiores contorções? Com uma agravante: não
é equitativa a destreza na dosagem das ferramentas que caibam dentro de uma
caixa correspondente. Almas há que passam incólumes aos sobressaltos espalhados
no caminho. Mas outras padecem das dores a que a inabilidade no maneio da chave
de parafusos destina.
(Ou pode dar-se o caso de haver quem se ufana de
prosseguir intacto pelo meio de uma tempestade, não carecendo de reparações por
não haver danos a reportar, e, todavia, tamanho orgulho é uma ardilosa simulação
que esconde a falta de destreza para pegar nas ferramentas precisas para reparar
os danos causados pela avaria.)
(Ou, apenas, tratar-se da irreprimível capacidade para
cair num fosso onde mágoas são carpidas, como se tão dolorosa empreitada as
remediasse.)
A chave de parafusos foi feita para domar contrariedades.
Elas desarranjam os parafusos que certificam a solidez e a chave está à mão de
semear para arrematar a um canto intempéries não desejadas. Houve já quem
dissesse (um poeta?) que os petizes deviam ser instruídos nos bancos da escola
para o manuseamento das ferramentas precisas para sarar as feridas interiores. Ato
contínuo, inventaram a psicologia e ficou tudo estragado. Vieram resmas de peritos
consagrar a queima de pestanas às considerações relevantes para a profundeza
das almas, enovelando uma densidade interminável que inventou (como consequência
da invenção da psicologia) a complexidade das almas. Foi quando alguém
vaticinou (outro poeta?) que a psicologia está no auge da incapacidade para
manobrar as chaves de parafusos que delatam as assombrações interiores.
As coisas complexas são (disse-o, talvez, outro poeta)
puras invenções de gente que, por desmazelo, não consegue encontrar soluções
para as simples coisas em que tropeça. As coisas complexas seriam simples com a
simples utilização da chave de parafusos que reaperta os parafusos no devido
lugar. É como alguém concluiu (porventura, outro poeta): que ninguém diga que não
consegue mexer numa chave de parafusos, que essa é a maior capitulação à complexidade
inventada.
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