Moderat, “Reimnder”, in https://www.youtube.com/watch?v=cJwsNUoazUg
O tempo que chega para dizer à pessoa amada que as
palavras, por plenas que sejam, não chegam para contar o tanto que ela conta
pelo amor que deu, nem o que dela sobra quando a finitude do tempo se revelar e
tudo não passar de um manto deitado sobre a memória.
O tempo que chega para devolver ao mar as angústias
sopesadas, sem remorsos nem ficar sitiado pelas torpezas dos fracos instintos,
sem verter uma lágrima por arrependimentos sem lugar, contando ao tempo
vindouro as páginas quintessência que hão de reter o tempo em moldura de ouro.
O tempo que chega para destituir adeuses que não devem
ser ditos, proclamando as palavras heroicas em forma de poema, sabendo que elas
irrompem do peito inteiro, sabendo que elas não se atiram ao ar sem serem antes
colhidas pela raiz, pelo mais fundo da sua raiz.
O tempo que chega para apreciar o sortilégio de um
entardecer à medida que o sol decai para as cores desmaiadas pela finitude que
se mistura com o fio do horizonte, vendo no quadro diante dos olhos a quimera
que omite a servidão da morte.
O tempo que chega para remexer o tempo por dentro, questionando
os esteios da vontade, congraçando os méritos do pensamento revisitado que traz
à superfície um olhar diferente sobre as coisas dantes apreendidas em
conhecimento agora refeito, aprendendo que a aprendizagem é um produto efémero.
O tempo que chega para lembrar as pessoas com
merecimento, as estradas demandadas, os livros que foram compêndios, a música
intemporal, as paisagens apegadas à pele, o mar circense, os animais, as frutas
que emprestam cor às árvores, uma centelha que se acendia sempre que a luz
parecia apagar-se no fundo afunilado da estrada.
O tempo que chega para aproveitar por dentro todos os
fragmentos do tempo, pois na sua escassez o tempo demora-se no infinito que
quisermos, estendido na larga paisagem onde contamos os relógios que são os
porta-vozes do tempo deixado na pele. Até conseguirmos cinzelar as arestas do
tempo e domá-lo entre as nossas mãos.
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