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Chip, “Huarache Lights”, in https://www.youtube.com/watch?v=9S0ONyRctyE
Um duende, aparentemente insignificante, mete medo ao
gigante. Parece contrariar as leis da física, a chamada “ordem natural das
coisas”. Como pode uma criatura liliputiana amedrontar o poderoso hércules?
Pode o primeiro exibir um viço incontestável, mostrando
o sangue na guelra contra os imponderáveis sortidos, convivendo com a loucura
própria dos destemidos. O segundo, quase adormecido, atado a uma decadência irremediável,
exangue de forças, apenas contemplativo dos tempos em que fermentou toda a sua
glória. O duende ostenta uma energia inquebrantável. Sabe que os tempos
vindouros serão o seu altar proeminente. O gigante sente no dorso o murmúrio
dos anjos finais. Sabe que já não tem armas para terçar contra o fado impiedoso
que o espera. Capitula, aos poucos.
Entre os dois, uma transição. O duende à espera do tempo
certo para se entronizar senhor de um império até agora tomado pelo adamastor. Sabe
que não o pode fazer antes do tempo. Não é provável uma reação intempestiva do
gigante, pretendendo defender a coutada que foi sua – que ainda é sua; o
gigante já não conserva forças necessárias para esse fim. É uma questão de
respeito. Uma sucessão aprazada no tempo, à espera que o tempo seja certo para
se soerguer no firmamento. O duende, apesar de jovem e ainda inconsequente, tem
a lucidez para intuir que ninguém lhe perdoaria se ocupasse o trono antes do
tempo. Antes que o gigante definhe até o fio da respiração se evaporar na
exiguidade de uma janela já encerrada.
O duende espera pela sua vez. Não tem que se
impacientar. Não tem de deitar tudo a perder. Deve-se entregar ao imperativo
tirocínio que o prepara para as funções que o esperam. Enquanto espera que o
gigante senescente expie de uma vez por todas, no seu tempo que é de reta
final. Na casa da partida, pacientemente à espera da altura certa para se
lançar na pista prometida, o duende que preste homenagem final ao gigante
prostrado. Dele foi o tempo de ser imperador. Dele virão os rudimentos que o
duende não pode desprezar. A passagem de testemunho não é uma rutura.
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