BADBADNOTGOOD, “Time Moves
Slow”, in https://www.youtube.com/watch?v=hgPQ2J_uM3A
Postulam-se novidades no pé de microfone: algumas palavras
desejar-se-iam proscritas, por serem uma servidão e, desse modo, não terem
serventia. Palavras meãs, acabrunhadas, sorumbáticas, melancólicas (no que a
melancolia traz de gratuito a tiracolo). Palavras sem cor, estremunhadas,
estremecidas, timoratas, ardilosamente campeãs de campeonato nenhum. Palavras
impossíveis de pertencerem a um poema.
Todas essas palavras deviam ser atiradas para dentro de
uma gigantesca tina onde uma solução aquosa com diluente trataria de as
dissolver do vocabulário. Para confirmar se a sua dissolução absolveria a alma
das más frequências que elas caucionam. Era como se uma nova semântica fosse
inaugurada. Desfeitas as palavras vãs, aquelas que andam de braço dado com os instintos
desperdiçáveis, os espíritos serpenteantes, as ondas que navegam no dorso de
cavalos desembestados, talvez todos os maus sentidos fossem banidos do mapa. E que,
através das palavras lavadas, a semântica reinventada pudesse ser a cancela
aberta para um olhar diferente, ou uma janela aberta que dantes estava
encerrada a sete pregos escondendo um bucolismo anónimo.
Palavras vãs, numa amostra das que se proporiam à extinção:
antologia. Negrume. Ingratidão. Queixume. Arrependimento. Mentira. Vaidade. Capitulação.
Erudito. Pesporrência. Você. Chinelo. Calmante. Fingimento. Lágrima. Pesar. Prece.
Roubo.
Depois da monda na floresta de palavras, sobrariam as
demais, sobrariam lavadas. Como se a extática heurística arrematasse uma
renovação por dentro entre as pedras das montanhas ermas. Talvez fosse necessário
arrancar páginas com veemência, para não sobrarem vestígios das palavras
depostas. Para termos a certeza que só haveria lugar às palavras lavadas e à
frondosa paisagem que se abria de par em par à frente de uns olhos já não
marejados.
Até que chegasse o comboio prometido pelas divindades
sem rosto e a nova semântica restaurasse as bainhas do ser, com novos azimutes
para pernoitar, novas páginas alvas para depositar as palavras demandadas. Deitando
fora as páginas de antanho, por vício de inutilidade, e tudo começasse de um
caderno novo, em branco, à espera – ansiosamente à espera – das palavras
lavadas e do seu rosto remoçado.
Sem comentários:
Enviar um comentário