Angel Olsen, “Sister”, in https://www.youtube.com/watch?v=-mIA1r2ZELU
A prova da fragilidade masculina (contrariando obnóxias
posições marialvas que afirmam a superioridade dos homens): em chegando a
velhos, quando a consorte se despede da vida em primeiro lugar, não demora que
o consorte a siga. Não é arriscado ensaiar a generalização, tantos os casos
conhecidos que reproduzem aquele arquétipo. Como se os homens idosos percam a
razão de viver. Como se eles não consigam suportar a dolorosa ausência,
enredando-se no estertor da solidão que, em breve, corta pela raiz a razão de
existir. Parece que são despojados de uma parte de si mesmos, tão entranhada a
consorte perdida.
Dirão os céticos que o idoso perde a razão de ser porque
perdeu quem lhe acautelava o sustento diário, as tarefas essenciais que o
atavismo teima em perpetuar (às mulheres, as lidas domésticas, tornando os
homens impreparados para a função). O homem sem o seu esteio na casa sentir-se-á
dentro dela como um estranho – será a ilação desta visão cética. Discordo. Por mais
que insistam no oportunismo diletante dos homens sem razão para continuarem a
viver na exata medida da perda que sofreram, vejo na pungente perda a imagem
perfeita do amor. Pois um amor só faz sentido se não for vivido no singular
(descontando os casos de incorrigível narcisismo).
A repetição de casos em que o idoso depressa gasta o
sentido da vida pouco tempo depois do funeral da consorte, é a imagem viva de
como duas pessoas conseguem intuir-se partes de um mesmo. Não alinho na ideia,
banalizada pelos céticos, que aponta para a habituação de uma ao outro (como
alicerce da falaz impressão de que parecem ser um só). As pessoas continuam a
ter vontade própria. A minha visão antropologicamente otimista (nem que seja
por exceção à regra, ao menos neste caso) chama à colação o império da vontade
e a propensão para as pessoas não persistirem no que lhes é adverso.
Por isso, as comoventes histórias de um homem que deixa
de ser válido para a vida ao sentir a dor da irreparável perda da sua amada. E,
por isso também, a destruição do mito da superioridade masculina. Nós é que
somos fracos; mas docemente fracos, ao darmos o flanco à irrelevância da existência
quando a consorte de tantos anos pereceu antes do tempo (que é o mesmo que
dizer: antes de ser o homem a tomar-lhe a dianteira).
Sem comentários:
Enviar um comentário