The Black Angels, “Bad
Vibrations” (live on KEXP), in https://www.youtube.com/watch?v=c-VEcHM-UVY
Conspiram os que se embaraçam perante
a indulgência que lhes é oferecida e se atiram, mastins mal-humorados, contra
as cores idílicas do mundo. A volumetria dos espaços e a contumácia dos desejos
não deixa vestígios no elenco das dúvidas.
Um cortejo não fleumático amuralha as
imediações e todos os quadrantes da rosa-dos-ventos ficam preenchidos com
gente-aberração e proezas agigantadas. Uns meirinhos da moral enquistada são apanhados
num bordel. Estazam desculpas, assim entrapadas: protestam a inocência e
asseguram que estão em trabalho de campo. Dizem-no seguros de que a sua mentira
será acolhida como prosa verdadeira. Uns polícias elogiados pela apreensão de
almas fora de prazo são encontrados a vender substâncias ilícitas às escondidas.
Entende-se, à posteriori, a abastança que exibiam.
Um padre notório, voz quase isolada
no desassombro do ecumenismo, é descoberto numa reunião de radicais malfeitores
que gritavam palavras de ordem contra os malditos radicais de uma religião
professada à distância. Ao sacerdote não cai a máscara, persistindo inerte e de
olhar soberbo, convocando o ecumenismo como medida acertada para travar os
maliciosos de outras religiões que espalham o terror. Um político, também notório,
é apanhado por um jornalista (de pública notoriedade) em escabrosas orgias que
só admitem controversas práticas. Acordam um código de conduta composto por uma
única regra: o silêncio.
Uma das bacantes, disfarçada da sua
reconhecida personalidade (também pública), desfaz o acordo e denuncia, com
fotografias ilustrativas, o escândalo. Não se importa de ser levada na fétida
corrente do escândalo, ela própria intérprete de punitivas práticas nas
fotografias reveladas. Especula-se sobre os proveitos materiais que vieram ao
regaço da madame. Toda a gente está errada: ela cometeu o ato graciosamente,
apenas pelo gosto (que vem de tenra idade) de semear a confusão e agitar os
esteios que são escoramento ideal para uma sociedade pacificamente escarnecida.
Levanta-se um pé-de-vento e a
sociedade sobressalta-se com insónias inderrogáveis. As pessoas estão agitadas.
Perplexas. Desconfiadas umas das outras. Podres começam a vir ao de cima em
sucessivas denúncias que fazem cair pessoas umas atrás das outras no palco do
risível, como se fosse um castelo de cartas a sucumbir ao primeiro toque, ao
toque devastador. Sente-se o caos a nidificar sem hipótese de retrocesso. Ninguém
parece ter salvo-conduto contra o dedo erguido a vergastar o pálio da censura.
No final do exercício, todos
descobrem que são párias. Não sobra ninguém para se sentar no papel de
julgador. A sociedade salvou-se.
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