Nine Inch Nails, “March of the
Pigs” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=-ZJvHXm4cYM
Faça-se justiça aos sacripantas: eles
são os primeiros a reconhecerem a sua estultícia, a falta de qualidades para
chegar a um zénite que outros, com as necessárias qualidades e esforço
comprovado, alcançam. Os sacripantas talvez não intuam, sequer, ser essa a sua
maior fraqueza: como discernem não serem capazes da proeza, por manifesto
excesso para as trívias capacidades que abrigam no pessoal bornal, procuram
tornear estatutos, seduzir complacentes, manipular os que conseguem manipular
(e outros tantos, se não ainda mais, que admitem a manipulação, mas preferem
assobiar para o lado para não caírem no logro dos problemas).
Os sacripantas julgam-se num altar
sobranceiro aos demais, uma casta a que é devida a entorse das regras sem que
assim seja considerado. Quando tal não é arregimentado por ausência de concordância
de quem com eles interaja, cozinham o pasto das prebendas subterrâneas para
alcançarem por meios impérvios o que o curso dos acontecimentos se encarregaria
de recusar.
Os sacripantas de primeira ordem de
grandeza não têm sustento isolado. Precisam de angariar sacripantas de segunda
ordem, os agentes indispensáveis para meterem ao bolso os encargos que de outro
modo não seriam capazes de experimentar. Os sacripantas de segunda ordem não são
menos sacripantas. Ao serem cúmplices dos sacripantas de primeira ordem,
estendendo-lhes uma passadeira vermelha que não lhes seria dada a provar, os de
segunda ordem rivalizam com os canhestros que lhes encomendam encargos contra prebendas
ou prometidas sinecuras (vá-se lá saber quais).
Se não houvesse sacripantas de
primeira ordem, não seriam encontrados sacripantas de segunda ordem. Se só
houvesse sacripantas de primeira ordem, sem o desassisado beneplácito dos que
se vêm a constituir sacripantas de segunda ordem, os primeiros teriam rédea
curta, estariam condenados a vegetar na infâmia da sua mesquinhez, condenados a
não sair do buraco negro que os viu parir.
Os sacripantas – todos por junto, sem
distinção de ordem – são a matéria pútrida que encontramos incrustada no lodo,
vermes desprezíveis, gente não-gente a quem o degredo caía bem (não houvesse a
matriz da liberdade a opor-se). Com potencial de prosperidade, pois a muitos não-sacripantas
é dado saber que a inescrupulosa maneira de estar cauciona muito frutos. Não lhes
é dado a entender (ou, em caso de o ser, ajuízam desimportante) que são frutos
podres semeados por gente miseravelmente pequena. Frutos de má colheita, que conspurcam
a colheita geral.
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