22.6.17

Os sacripantas


Nine Inch Nails, “March of the Pigs” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=-ZJvHXm4cYM    
Faça-se justiça aos sacripantas: eles são os primeiros a reconhecerem a sua estultícia, a falta de qualidades para chegar a um zénite que outros, com as necessárias qualidades e esforço comprovado, alcançam. Os sacripantas talvez não intuam, sequer, ser essa a sua maior fraqueza: como discernem não serem capazes da proeza, por manifesto excesso para as trívias capacidades que abrigam no pessoal bornal, procuram tornear estatutos, seduzir complacentes, manipular os que conseguem manipular (e outros tantos, se não ainda mais, que admitem a manipulação, mas preferem assobiar para o lado para não caírem no logro dos problemas).
Os sacripantas julgam-se num altar sobranceiro aos demais, uma casta a que é devida a entorse das regras sem que assim seja considerado. Quando tal não é arregimentado por ausência de concordância de quem com eles interaja, cozinham o pasto das prebendas subterrâneas para alcançarem por meios impérvios o que o curso dos acontecimentos se encarregaria de recusar.
Os sacripantas de primeira ordem de grandeza não têm sustento isolado. Precisam de angariar sacripantas de segunda ordem, os agentes indispensáveis para meterem ao bolso os encargos que de outro modo não seriam capazes de experimentar. Os sacripantas de segunda ordem não são menos sacripantas. Ao serem cúmplices dos sacripantas de primeira ordem, estendendo-lhes uma passadeira vermelha que não lhes seria dada a provar, os de segunda ordem rivalizam com os canhestros que lhes encomendam encargos contra prebendas ou prometidas sinecuras (vá-se lá saber quais).
Se não houvesse sacripantas de primeira ordem, não seriam encontrados sacripantas de segunda ordem. Se só houvesse sacripantas de primeira ordem, sem o desassisado beneplácito dos que se vêm a constituir sacripantas de segunda ordem, os primeiros teriam rédea curta, estariam condenados a vegetar na infâmia da sua mesquinhez, condenados a não sair do buraco negro que os viu parir.
Os sacripantas – todos por junto, sem distinção de ordem – são a matéria pútrida que encontramos incrustada no lodo, vermes desprezíveis, gente não-gente a quem o degredo caía bem (não houvesse a matriz da liberdade a opor-se). Com potencial de prosperidade, pois a muitos não-sacripantas é dado saber que a inescrupulosa maneira de estar cauciona muito frutos. Não lhes é dado a entender (ou, em caso de o ser, ajuízam desimportante) que são frutos podres semeados por gente miseravelmente pequena. Frutos de má colheita, que conspurcam a colheita geral.

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