Nine Inch Nails, “A Warm Place”,
in https://www.youtube.com/watch?v=G1vxJb6MQ34
Se tirasse o tapete ao chão, sentiria
a orfandade a oferecer leito aos pés? Dizem que é estulto não precaver os
destinos que merecem cartografia nos preparos de um estirador. Dizem: que não
se pode vendar os olhos e caminhar sem saber por onde, pois o chão está repleto
de alçapões e, em todo o caso, de olhos vendados não é possível saber quando é
altura de mudar de direção.
Todavia, muitas são as vezes em que
apetece deitar ao caminho sem saber por que caminho arremeter. Um pouco como se
fosse o jogo da cabra cega. Os impolutos da certeza, os que têm pavor do menor
dos riscos, ficarão boquiabertos, transidos pelo temor, só de pensarem na hipótese
(já para não aduzir a impossibilidade de dar sentido material à hipótese). Não é
essa gente que carece de cuidados da atenção. Aliás, gente nenhuma é credora
desse espartilho. Só importa deixar vogar o corpo nos interstícios de uma maré,
deitá-lo nas ondas reviradas que são o mar de fundo de uma corrente que o corpo
cavalga, sem pressentir a rosácea soalheira, ou a cor das montanhas
palmilhadas, ou a vegetação exótica que vier parar às mãos. Recusando mapas e
instrumentos de navegação.
Alinham-se as modalidades do jogo em
modo cabra cega: em chegando a um lugar onde se intui a liberalidade de
despojar a venda e deixar os olhos com horizonte por diante, os olhos são emprestados
ao lugar, crescendo em coro com os segredos que o lugar esconde. Na cabra cega
não há lugar ao previsível. Porque o previsível diminui a fazenda faustosa que
ficou de emoldurar o pensamento. A jogar à cabra cega, correndo o risco dos
imponderáveis (que, a acontecerem, exigem resoluto atalho), jogando com o
diadema do fado invisível, até um sobressalto interior subir à cena e se tornar
no chamamento imperativo.
Se não fossem homens destemidos a jogar
à cabra cega, a civilização tinha chegado (na melhor das hipóteses) com uns séculos
de atraso.
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