Anarchicks, “Black Box”, in
https://www.youtube.com/watch?v=9c2FA2vdT2w
Os truques assanhados dos pederastas da
alma, cientes da ingenuidade dos outros sem darem conta da sua estultícia.
Os sonos sitiados em poços sem fundo, convocando
as trevas implacáveis.
As palavras sem rosto, apoderadas pelos
flancos da virtude a que se não conhece tutor.
As rodas do tempo sem préstimo.
A resplandecência de ideias ímpares, na
exata véspera de serem recusadas por resilientes curadores da normalidade.
Os contrafortes da beleza, em antinomia
com os risíveis peraltas sem leito para repousar.
As manhas da gastronomia, em perfeito
deleite sacrificial, em que tudo que se intui é a simulação emoldurada por descrições
exuberantes que parecem exercícios de literatura.
Os gatos vadios, puros, indomáveis.
Os corpos aformoseados, mesmo que sejam
destemperos da inanidade interior.
A lua inteira escondida na penumbra das
nuvens, a lua que também se envergonha.
O marasmo: tem mesmo serventia?
Os olhos raiados pelo cansaço, ou olhos
tomados pela embriaguez do conhecimento?
A narrativa não adjetivada, a modéstia
de processos, biombos onde tudo se desnuda e ninguém se precata com lentes temperadas
pelo preconceito.
A rebeldia sem remédio, coldre que
apascenta a redenção.
Os objetivos cuidados pelo valor
inestimável da afeição.
O amor. Improrrogável. O amor configurado
pelos silêncios que dispensam palavras, pelo amplexo dos corpos que se
entregam, pelo prazer sem freios.
Os poemas esteio. Lidos e relidos e,
todavia, fautores de erupções cutâneas de bom quilate.
As horas nunca tardias nos lugares onde
os atrasos não contam.
O espectro maldito dos
palhaços-fantasma, no sorriso ilusório que esconde facas com gumes à espera de
serem traspassadas no primeiro incauto.
As estátuas sem significado.
O esquecimento. O providencial e o
espontâneo.
As laias reunidas em torpes exercícios
de insubmissão.
Os heróis que não há.
O risível. Caução de incontinente
contentamento.
As paisagens de mel, os odores sortilégio,
o mar afoito, a noite sem medo.
O teatro que mete o pensamento em
trabalhos – árduos, apenas; ou trabalhos em pleno sentido da palavra.
Os cemitérios sem serventia.
Os cabazes de palavras arroteadas contra
a matéria indocumentada da alma.
As crianças abraçadas à ingenuidade.
A materialização dos devaneios.
A provável loucura improvável.
À consideração: prosa ou poesia?
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