28.9.17

À consideração

Anarchicks, “Black Box”, in https://www.youtube.com/watch?v=9c2FA2vdT2w    
Os truques assanhados dos pederastas da alma, cientes da ingenuidade dos outros sem darem conta da sua estultícia.
Os sonos sitiados em poços sem fundo, convocando as trevas implacáveis.
As palavras sem rosto, apoderadas pelos flancos da virtude a que se não conhece tutor.
As rodas do tempo sem préstimo.
A resplandecência de ideias ímpares, na exata véspera de serem recusadas por resilientes curadores da normalidade.
Os contrafortes da beleza, em antinomia com os risíveis peraltas sem leito para repousar.
As manhas da gastronomia, em perfeito deleite sacrificial, em que tudo que se intui é a simulação emoldurada por descrições exuberantes que parecem exercícios de literatura.
Os gatos vadios, puros, indomáveis.
Os corpos aformoseados, mesmo que sejam destemperos da inanidade interior.
A lua inteira escondida na penumbra das nuvens, a lua que também se envergonha.
O marasmo: tem mesmo serventia?
Os olhos raiados pelo cansaço, ou olhos tomados pela embriaguez do conhecimento?
A narrativa não adjetivada, a modéstia de processos, biombos onde tudo se desnuda e ninguém se precata com lentes temperadas pelo preconceito.
A rebeldia sem remédio, coldre que apascenta a redenção.
Os objetivos cuidados pelo valor inestimável da afeição.
O amor. Improrrogável. O amor configurado pelos silêncios que dispensam palavras, pelo amplexo dos corpos que se entregam, pelo prazer sem freios.
Os poemas esteio. Lidos e relidos e, todavia, fautores de erupções cutâneas de bom quilate.  
As horas nunca tardias nos lugares onde os atrasos não contam.
O espectro maldito dos palhaços-fantasma, no sorriso ilusório que esconde facas com gumes à espera de serem traspassadas no primeiro incauto.
As estátuas sem significado.
O esquecimento. O providencial e o espontâneo.
As laias reunidas em torpes exercícios de insubmissão.
Os heróis que não há.
O risível. Caução de incontinente contentamento.
As paisagens de mel, os odores sortilégio, o mar afoito, a noite sem medo.
O teatro que mete o pensamento em trabalhos – árduos, apenas; ou trabalhos em pleno sentido da palavra.
Os cemitérios sem serventia.
Os cabazes de palavras arroteadas contra a matéria indocumentada da alma.
As crianças abraçadas à ingenuidade.
A materialização dos devaneios.
A provável loucura improvável.
À consideração: prosa ou poesia?

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