13.9.17

Da opinião prolixa (catedráticos sem cátedra)

This Mortal Coil, “Late Night”, in https://www.youtube.com/watch?v=9S5xonZ0z9M    
(Em discurso direto, a partir da lente desfocada de um narrador que se vê de um tamanho maior do que o esperado ao espelho.)
Rufias são os que pavoneiam o saber do saber vertido nos livros. Impantes, só sabem o que aprenderam através das palavras dos outros. Só os lustros injustos do mundo os admitem a cátedras que não merecem. São catedráticos do lugar-comum, sem saberem arregimentar a criatividade que, essa sim, devia ser a medida usada para separar os sábios de saberes e premiar os que são credores de encómios.
Quando comparo a opinião deles com a opinião minha sobre tudo e mais alguma coisa, não vejo diferença. Corrijo: vejo diferença: eles não se distinguem pelo saber, a não ser pelo saber que reproduzem entre si, uma endogamia que os protege a todos. Para fecharem o escol a que pertencem, tornando-o inacessível a não ser aos que de tanto serem pajens acabam por ser admitidos na confraria, escudam-se em cânones obtusos, variegadas regras herméticas que excluem das cátedras sociais os que não pertencerem ao escol. Não chega respeitar esse compêndio formal: há que elogiar os gurus, reproduzir o seu conhecimento (mesmo quando ele é apenas reprodução, em versão adaptada, do conhecimento que vem de trás), trautear as mesmas lengalengas. E cair nas suas boas graças. É um conhecimento falaz. Cingido às baias por onde circula o conhecimento ostentado como matéria só ao alcance de sábios. Gostam de ser tratados como sábios. Eleva-os a um pináculo de onde exigem reconhecimento. Esmagam os outros com a sua perícia inatacável – e fazem gala dessa soberba com que esmagam os fracos. Concluo a correção: a opinião destes gurus não chega aos calcanhares da minha. Eu, que não cheguei ao estatuto (porque nunca quis).
(Nota do narrador que vistoria a narração do narrador direto: informação passível de desmentido: o narrador direto frequentou os meios que podiam ter dado acesso à cátedra. Ambicionou-a. Acabou excluído. Ele argumenta que foi por manifesta injustiça, preterido por outros que não tinham melhor jaez, a não ser a diligência de adularem os gurus. Omite este pergaminho fracassado.)
Tenho a certeza que não perdia um pleito em forma de debate, se viesse para o tabuleiro da discussão em coincidência com esses catedráticos. Eu sei de tudo um pouco. Mas muito. Recolho informação em fontes fidedignas.
(Desmentido do narrador indireto: não passa de informação superficial, infundamentada quase sempre, obtida em fontes que só informam frívolos pregões sem substância, com conclusões apressadas que se estribam na vontade do narrador que ele quer que se confunda com ciência à prova de bala.)
As minhas opiniões, fecundas e prolixas, têm o condão de esmagar a concorrência que não tem veleidades de o ser. Perguntem-me sobre tudo e mais alguma coisa. Tenho resposta para tudo. Sou um pouco como os curandeiros que curam maleitas diversas de olhos fechados. E ai de quem tiver o topete de me reduzir à insignificância, que trato, sem demora nem contemplações, de decretar terrível julgamento ad hominem, tão devastador que não sobrará pedra sobre pedra do irradiado.
Tanta ciência, embora não reconhecida (para infortúnio dos que têm estreiteza de ideias), não deixa sombra de dúvidas.

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