The Breeders, “Safari”, in https://www.youtube.com/watch?v=xT6oZGThwis
Um jeito: como se houvesse uma palete inteira
dedicada à maquilhagem, só para disfarçar as ruínas em que houve decaimento. Não
é preciso muito. É só para disfarçar. Pode ser que ninguém repare. Pode ser que
seja mais astuto do que a consideração dos impropérios outros, caso tenham
lugar. Que mania: devolve-se ao interior do ser as pecaminosas considerações
que partem de outros, como se elas não se devessem só aos outros seus autores.
O corpo erra em demanda de fita-cola. É precisa
para ocultar os rombos na alma. Outra vez: que ardilosa teimosia que não vem ao
caso, pois o disfarce prestado pela fita-cola apenas oculta as coisas em seu
verdadeiro estado dos outros que a elas sejam convidados a assistir; quanto ao
resto, e o resto é o mais importante, a fita-cola é um embuste: o fingimento não
dissolve as consumições interiores em que fermenta a necessidade de um remendo.
Debaixo do remendo continua alojada a pústula que o tornou possível. É como se
uma demão de verniz embelezasse o que é irremediavelmente pertença da fealdade –
caso a fealdade seja um distúrbio que exige ser aplacado. Dá-se um jeito, os pós
de perlimpimpim falsamente serventuários de uma quimera, mas a quimera – como todas
as quimeras, dada a sua impossibilidade – imprestável.
Mais valia deixar tudo à mostra: as excrescências
que militam no obnóxio, as porosidades pestíferas, as improváveis ideias que afastam
as pessoas decentes (e, ah!, as pessoas decentes como arquétipo consagrado...),
os poços imundos e as areias movediças, as traves arrevesadas de onde se
alcança um pensamento pária. Se ao menos vingasse o convencimento de que os
outros não importam, não eram precisos estes pensos rápidos que são a prova acabada
da estultícia, um atentado à genuína (e, todavia, controversa) alma. Então, assente
ficaria a exiguidade necessária do ser, ao mesmo tempo que se dava por
adquirida a inutilidade de mostrar o que quer que fosse aos demais. Todavia,
neste amplexo de contradições, e em sendo seres comunicantes, através dos vasos
linguísticos que são expressiva inteligibilidade do ser, não podemos desaprovar
a tangibilidade do outro e a nossa interação com ele.
Talvez um Aladino descoberto em lugar insondável
desfaça o enigma. Não somos ilhas. Mas não nos podemos ter como simples peões apoderados
pelo juízo alheio. É mais fácil transigir as fragilidades em que medramos, sem
termos medo da sua sujeição.
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