The Rapture, “In the Grace
of Your Love”, in https://www.youtube.com/watch?v=BVjdyAdAXZo
Não é por ser aniversário. É por ser como é – e
nada pode contra a totalidade que não admite contestação e que nos vem parar às
mãos. Sob a luminosidade singular das palavras que se irradiam em tua presença.
No capaz abrigo de uma fortaleza à prova de bala, contra todos os infortúnios,
inigualável seguro de vida contra sobressaltos que se ensaiem. É como se
houvesse um rio indomável e medonho a correr na nossa direção, ameaçando caos, e
fosses o dique que represa as águas, domando-as sem remissão.
Encontro cais seguro dentro das paredes que são
os limites sem limite do teu corpo. Do teu sorriso sem hipotecas, um
desassombro de fulgor, proclama-se um paradigma ímpar. Dos teus espelhos sobram
as palavras-pétala, os sentimentos aformoseados que são lições, muitas vezes
lições de que não se consegue guardar vestígio. Lições tão majestosas e difíceis
de reproduzir, a não ser por dentro das veias tuas onde parece o ouro ser a
seiva. Não é segredo confessar o esteio que és. Foi preciso chegar à madurez
inteira para ter percebido que ainda havia tanta grandeza por sentir, tanto
mais ainda por aprender – como se do tempo pretérito sobrasse apenas um imenso
esquecimento, ou então dele fosse possível apenas converter uma insólita
inexperiência. Por ti, aprendi o significado das mãos e de como elas são uma
maré cheia.
Ao teu lado, é como se o tempo se demorasse
numa quimérica transfiguração dos conceitos. Somos os domadores desse tempo e a
nós vem a empreitada de inventar novos calendários. Entre os olhares que
fixamos, juntamos as ameias de onde se avistam os refúgios precisos. Não é por
medos alheios; somos tanto e tão grandiloquentes que não sobejam temores com
visível céu por pano de fundo. É o que nos percorre nas veias e juntamos em
coreografias únicas, tu dançarina exímia e eu, relutante aprendiz. Não faltamos
à verdade que em nós se arqueia. E nem as rugas, entretanto despejadas de
costume, desaprovam o sortilégio que é o aquário em que nidificamos, a água mirífica
que me dás a beber.
Para o ano, outro aniversário. E eu sei que as
pedras do cais onde lanço âncora, do cais forte de que és frontispício singular,
não se esgotam na curvatura do tempo. Pois é o tempo que aprende connosco e,
por isso, temos a vaidade de dizer dele seremos seu curador.
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