4.9.17

Leilão



Protomartyr, “My Children”, in https://www.youtube.com/watch?v=bjiZ-ksSJ_Q    
Quem oferece menos? Quem protesta uma intensa abnegação que converge contra as preces dominantes? Dizem que a concorrência, apanágio do tempo que corre, estabelece bitolas superiores: as pessoas competem, sacrificam-se na competição com o propósito de intuírem o triunfo, porque o resultado que se lhe opõe cobre de humilhação os rivais. Em assim sendo, os corpos perfilam-se na longa fila onde se terçam as vaidades e o bastão da inesgotável concorrência se atiça com o combustível da ambição sem medida.
O resultado não é agradável. Embebidas no espírito da rivalidade gratuita, as pessoas profanam-se, vendem-se, se preciso for, se esse for o critério ajuizado para não serem acossadas pelo peso da humilhação consequente ao infortúnio na demanda. Do mal, o menos. Pode ser que as pessoas aprendam com os sobressaltos. Pode ser que sejam menos dadas à ganância se souberem sentir os sinais que tomam conta do horizonte quando são agraciadas com o malogro nos pleitos a que se atiram. Debalde. É como se fosse um vício irreprimível e a cada infortúnio se sucedesse a tentação para se atirarem para sucessivas, e mais ousadas, demandas. Como uma droga que ataca sem apelo. Ou como o jogo, que sitia as vontades dos dependentes e acaba com a sua orfandade. Mas ninguém quer ficar atrás dos outros. Numa vertigem incessante em que os corpos parecem inebriados com o mergulho no imperscrutável abismo, como se respirassem apenas do ar embolsado por dentro do abismo.
Haja o contrário de tudo isto. Numa porventura ingenuidade balsâmica, sem corromper o rosto firme com os proveitos vãos de demandas genuinamente pueris. Como se o jogo fosse virado do avesso e apenas sobrasse uma paradoxal inversão da ambição, as pessoas afinando por um estalão inferior de cada vez que se congraçam pleitos – desta forma tornados inúteis por dentro da sua vacuidade. Num leilão às avessas em que ganha a proposta mais baixa. Sem vencedores nem perdedores.
Ninguém se alinhave pelas bainhas que são por outros costuradas. Até que sejamos todos unidades centrípetas sem espelhos por imediação, sem limites por fora de nós que são autênticos deslimites que não podemos pastorear.
Quem oferece menos?


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