Parece que o tempo conspira e é exíguo para as empreitadas que esperam por vez. Uma atrás da outra, uma constelação de adiamentos – ou um carismático eufemismo para disfarçar o logro. Desfilam os pretextos. A intensidade do mundo exterior, com o interminável rosário de distrações. A desorganização mental que nunca é desorganização mental, mas apenas uma vaga reminiscência das muitas invitações que obrigam o eu a dividir-se por múltiplas e incapazes parcelas. A capitulação que beija as margens da decisão quando é confirmada a hercúlea tarefa. Um certo amesquinhar próprio, a meias com a propensão para a indulgência que cobre a paisagem quando a comiseração é convincente. Ou apenas a aprovação da imperícia que subjuga o pensamento, atirando-o ao caudal veloz onde se perdem os azimutes. Muitas vezes, DNF suga a consciência, não fosse a consciência ter-se acostumado à ignávia. Aparentado a um sequaz da poltronice, mantém-se à tona, interpretando as modas entre os pingos da chuva. As coisas sempre pela metade, ou nem tanto. À vista da retrospetiva, um imenso logradouro de matéria inacabada. Como se se tratasse de prédios que ficaram pela ossatura, exibidos ao exterior, dolorosamente expostos na fragilidade de quem deixa as entranhas à mostra. Alguém assim suplica pelo anonimato. Não quer a visibilidade dos fracassados. Malditas sejam as convenções que estabelecem o imperativo da obra feita. Malditas sejam, que não lhes ocorre que muito mais do que é feito é o que fica por ser feito. O peso paquidérmico arqueia-se sobre o dorso dos fracos, atirados contra a sua vontade para o tribunal dos elegíacos onde se sentam em trono solene os penhores da obra feita sem inventário. Até que caiam as máscaras e ninguém seja artífice do perjúrio de um DNF. Oxalá DNF fosse, também, a prescrição para uma vida.
(DNF: acrónimo de did not finish)
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