2.3.21

Redundância

The Limiñanas ft. Bertrand Belin, “Dimanche” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=DWeNpmSA0-0

Repreende-se a admirável concentração de sinónimos por metro quadrado? Quem precisa de se repetir deitando mão à fartura de sinónimos, tem a certeza do que afirma, ou julga, erradamente, que o sentido só se aclara se vier ancorado à redundância? 

Primeira hipótese de trabalho: o mestre de cerimónias da redundância obteve uma especialização em encher chouriços, mostrando a pouca competência para a síntese. Atira-se ao gongórico, como se o gongórico fosse critério de enriquecimento do texto. Não aprendeu por outra cartilha, a que desafia os escreventes a se situarem no parapeito da simplicidade. O que pode ser dito num punhado de palavras dispensa a sua prolixa alternativa.

Segunda hipótese à consideração: o redundante excita-se com a proficiência de sinónimos que exibe, como se fosse o seu particular cartão de visita que prova a erudição. Ignora que ninguém o contratou para ser dicionário de outrem. Para dicionário de sinónimos não é preciso deitar mão à literatura. 

Terceira hipótese em cima da mesa: a redundância é um estilo que costura a escrita, uma filigrana meticulosa com o propósito de esvaziar o texto na sua constelação de iterações. Como se o texto fosse um emaranhado de lugares-comuns tecido de propósito, com o propósito de mostrar que a teia labiríntica de palavras que são de si sinónimas tem o efeito terminal de se esgotar no recurso às redundâncias. A inflação de palavras origina o minimalismo do significado.

Quarta hipótese: a redundância foi involuntária. Na correção do texto, a distração deixou passar em branco a redundância e ela ficou plasmada em letra de forma. 

De todas as hipóteses, saber a qual delas corresponde o texto do redundante é um tiro no escuro. A menos que lhe seja perguntada a intenção, na hipótese de o autor ainda estar vivo, sem o que a especulação é o instrumento que sobra para estimar a intenção da redundância, em forma de adivinhação. E mesmo perguntando ao autor, pode não admitir a redundância, atribuindo-a a uma tresleitura de quem o interroga; ou, admitindo-o no seu íntimo, recusa-se a dar parte de fraco, porque ele próprio está do lado dos que se incomodam com redundâncias. 

Sobra a derradeira hipótese de trabalho: a decantação da redundância é um processo estéril. Um julgamento arbitrário que se impõe sobre um texto de outrem. Quem disse que as redundâncias não têm direito à existência?

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