Não esgrimam a utopia da transparência. Não digam que tudo se trata às claras sem serem intérpretes de uma farsa. A simetria é um logro. Uma palavra que se esgota no vazio ao ser pronunciada, mero conceito que enche os manuais por que se regem os intendentes e se instruem os súbditos. O objeto mais valioso é o biombo. Há sempre um biombo a embaciar o palco onde aparentemente as coisas que importa têm o seu curso. Não é sem fundamento que se adverte que a informação é dos bens mais preciosos. E se a informação devesse obediência à igualdade, ela deixava de ser a moeda forte que é. Seria o decesso dos oportunistas. Os pequenos e grandes oportunistas que escondem a informação e a guardam para dela obterem um ganho de causa que não é acessível ao comum dos mortais. Atrás dos biombos orquestram-se os bastidores onde se opera a diálise dos interesses. É uma opereta com direito de admissão reservado. As vantagens acumulam-se com a posição privilegiada à partida. Os que estão fora do círculo contentam-se com as migalhas deixadas de fora, num arremedo de generosidade que é outro capítulo da farsa instituída. É como se houvesse um mapa escondido, em segredo, e só uns quantos, com acesso à palavra-chave, pudessem usá-lo para se moverem entre os corredores onde são distribuídas as prebendas. Sejam sinecuras, sejam vantagens materiais, seja o exercício de um poder em pose ostensiva. Deviam deixar cair a máscara das assembleias onde – apregoa-se – se exerce a representação dos cidadãos. Esses não são os palcos principais. São os palcos condicionados pelo que se orquestrou atrás dos biombos, nos bastidores de acesso restrito. Ficariam à mostra os bastidores como cenáculo de um punhado de privilegiados. E a farsa da democracia.
9.8.21
Tudo se ordena nos bastidores (short stories #348)
Unknown Mortal Orchestra, “That Life”, in https://www.youtube.com/watch?v=UJXccBGs_IY
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