(Das agências noticiosas e de umas quantas fontes bem colocadas junto do partido do governo)
O primeiro-ministro vai criar uma direção-geral da imaginação, sob a sua tutela direta. Esta é a surpresa que está a ser preparada e, não fossem os habituais indiscretos, que os há em todos os lugares, seria uma decisão insólita. Não há conhecimento, no país e ao nível internacional, da imaginação merecer tutela governamental.
Segundo as fontes que revelaram o segredo, o primeiro-ministro deseja que a maioria absoluta não seja considerada (pelos que no partido do governo não votaram) sinónimo de fechamento. Ficará por confirmar se a intenção é retórica ou se será confirmada quando os acontecimentos saírem da casa de partida.
Pelo que foi dado a saber, o líder da nação quer emprestar valor à imaginação como recurso estratégico. É de esperar que das artes e das letras (mas não tanto da publicidade e do marketing, que andam arredios da imaginação e fracos na estética) venham contributos para estimular a imaginação dos concidadãos. A direção-geral será catalisadora de todos os contributos de cidadãos anónimos e não anónimos, vertendo-os num documento estratégico que funcione como o farol de longo prazo para o país se extrair dos lugares derradeiros da Europa. Espera-se, também, que o voluntarismo imaginativo sirva para desmatar a tradicional letargia que afasta os concidadãos da entrega à coisa pública; e que o mítico sebastianismo seja capturado, como acontece com o carbono para fins ambientais.
Os serviços da direção-geral da imaginação serão itinerantes, não ficando presos a um lugar estático algures no Terreiro do Paço. O primeiro-ministro considera que o grande capital de imaginação está no país profundo. É esse viveiro que os serviços da direção-geral cuidarão de inventariar, na sequência de laborioso trabalho de campo.
Ficou por saber se os cidadãos que se distinguirem por contributos imaginativos serão premiados e, em caso afirmativo, como. As fontes que sub-repticiamente divulgaram a informação foram omissas quando confrontadas com a pergunta, o que poderá sugerir que os contributos serão voluntários e não compensados – e poderá, também, hipotecar os resultados esperados da medida.
Se as fontes forem fidedignas, esta será a primeira vez que uma direção-geral é dirigida de fora para dentro. As fontes, excitadas com a ideia, remataram a conversa anunciando que nunca como agora, e no âmbito desta direção-geral, a governação se aproximou tanto do ideal da descentralização.
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