Somos todos ilhéus porque estamos cercados por tudo e por todos os lados. Somos ilhéus porque sabemos que o mar nos separa dos ilhéus outros. Somos ilhéus, porque somos únicos sem termos a pretensão de ser centrípetos.
Somos ilhéus na identidade que nos desmata. Peças sem semelhança, matéria-prima distinguível no fogo não fátuo da existência. Somos ilhéus porque acendemos os clarões que trazem sentido à vida (mesmo quando o palco se congemina para o desmentir). Como ilhéus, tratamos por tu o sangue que se alimenta das veias, o sangue que é o fautor da vontade em que nos investimos. Devíamo-nos mentalizar da condição de ilhéus para não sermos atraiçoados por convocatórias de pertença que absolutizam um grupo e reduzem o ser à insignificância.
Devemos ser ilhéus, mesmo que tudo concorra no sentido contrário quando somos colocados à mercê do voluntarismo dos regentes que impetram um destino comum. Corremos por fora, se preciso for, e guardemos no peito a idiossincrasia que nos apresenta como ilhéus. Pois o mar que nos separa de ilhéus outros é o obstáculo à fusão tencionada. Como ilhéus somos a tração da nossa própria vontade – e só nos entregamos a idealismos comuns na exata medida da sua utilidade para a esfera do ilhéu.
Somos ilhéus e sabemos do cuidado que devemos ter com a coutada que nos pertence. Os demais ilhéus seguem o mesmo critério. Não é plausível que a generosidade, e o desprendimento do eu, sejam tanto que um ilhéu se negue a si mesmo, convencido que tem de cuidar dos demais ilhéus de que se diz pertencerem ao seu arquipélago.
Somos ilhéus e estamos cercados por todos os lados pelo tudo que é composto pelos outros ilhéus. Investidos do encargo máximo de não postergar os demais no altar do nosso ensimesmar, somos, todavia, ilhéus. Mesmo que o mar nunca tenha sido visitação.
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