12.7.22

Os padrinhos do futuro

Yeah Yeah Yeahs ft. Perfume Genius, “Spitting Off the Edge of the World”, in https://www.youtube.com/watch?v=ckM_TklU_AQ

Quem se prende ao limo arrastado pelo nevoeiro da alma? As estrelas são todas cadentes. Uma música vagamente evocativa de um passado interrompe a finitude do silêncio. Mas não mareiam as memórias que seriam resgatadas desse modo. Estariam ausentes, apenas uma circunstância de si mesmas, sem um ânimo reivindicado. O seu resgate seria uma usura.

Perfilam-se os sacerdotes da verdade. Desfilam mais a sua pose solene, como se neles gravitasse toda a armadura em que se albergam as pessoas. Quase ninguém percebia que a verdade é uma impostura determinada por quem a determina. Uma ditadura que se abate sobre os demais, sem que eles sejam capazes de a intuir. A maior das desliberdades que arremata os braços promissores do pensamento que se promete livre. 

As pontes terçadas deixavam de ser desfiladeiros. Era a compensação que se ajuramentava no equilíbrio despojado de embaraços. Em vez das meias palavras, dos garrotes que aferrolham a alma e a amputam dos juros por vencer, o desfiladeiro atemorizava a vontade. Impunha-lhe freios que a embaciavam, como se um esquadrão de iracundos guerreiros adejasse sobre a matéria futura, algemando-a.

“Os engenheiros que são os pais fundadores das pontes deviam receber as maiores comendas.” Não sabia as origens da frase que, todavia, ficara a pairar sobre o horizonte onde se arrecadam as palavras sensíveis. As pontes que redesenham a geografia são como chaves da linguagem cifrada que a preenche com sobressaltos. Desses acidentes da geografia sobressaem os estorvos à circulação das pessoas e das coisas. Um dos piores pesadelos. As pontes reconciliam as gentes divididas pela destemperada geografia.

Nos contrafortes do sossego, as mãos desenham estrofes heurísticas. Diferentes mãos tutelam estrofes sucessivas, num poema coletivo que se autoriza na firme representação das vontades cimentadas. À espera de ser a manhã desarmada dos medos de outrora, os olhares já só esperando a amenidade dos amanhãs que estejam na paciente linha de montagem. E os operários, todos eles convertidos em poetas sem o saberem.

Sem comentários: