Os projetos acabam-se em si mesmos. São como celebrações preparadas com a diligência do tempo, mas quando se consumam sobra a invisível angústia de um vazio. Talvez seja a eterna insatisfação alimentada pela pureza da imperfeição das pessoas. Ou apenas a consagração de um processo, sem que o propósito de uma empreitada cresça nas preferências das pessoas: é o processo que as realiza, não a consumação da empreitada. Junte-se o formidável santuário do pensamento. Somos capazes do pensamento, mas não fiquemos deslumbrados. O pensamento também é um processo. Mesmo quando desata os nós de uma demanda, a recompensa interior depressa se esgota pela sensação de vazio que se apodera do dia seguinte. As proezas são paradoxais, elas contêm a não demorada ressaca por terem sido atingidas. A fragilidade humana consuma-se no esgotamento da demanda que se alinhava já como pertença do passado. É uma prova da humildade humana – ou apenas, voltando atrás, da sua irremediável insatisfação interior, o que tem a virtude de a afastar da propensão para a autoglorificação. Os legítimos filósofos ensinam que a sede por respostas é um logro; a riqueza do processo está em assentar as perguntas que aviva o pensamento. É desse cimento que precisamos. Pois uma pergunta não exige uma resposta. E se alguém se convencer que a resposta foi descoberta, é a inércia consequente que se ajuramenta. Se não, o pensamento capitula no logro que o deixa anestesiado. Os que se inebriam com uma resposta, cuidando dela como um feito, deixam à conta desse deslumbramento o fingimento de si próprios. Sem talvez saberem, cunham as suas próprias desmaneiras. Precisamos de uma bússola diferente, uma que dê caução a um novo comportamento. Para então não ser a angústia, consequente à sensação de vazio, que é hasteada quando o feito vai para o inventário dos projetos arrematados.
22.7.22
Sem maneiras (short stories #389)
Black Country, New Road, “Opus” (live from the Queen Elizabeth Hall), in https://www.youtube.com/watch?v=SWfLIIalMCg
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