15.7.22

Um ramo de oliveira (“ou assim”)

Lisa Gerrard & Jules Maxwell, “Noyalain (Burn)”, in https://www.youtube.com/watch?v=13HWFBUOIWU

Consternado, perguntava ao simbólico devir como resolver as pendências que o tomavam de assalto. Temia ficar refém de uma qualquer beligerância – e as beligerâncias, exceção feita aos castrenses e aos lunáticos que medram na violência, era má moeda. 

Mas o devir continuava silencioso. Não era de esperar outra coisa. O devir ainda não tinha chegado. Ninguém pode falar antes do tempo. (Por muito que haja gente pródiga na cacofonia a destempo, mas essas são palavras destinadas à improcedência.) Não desistia da empreitada. As pendências não deixavam de ocupar assoalhadas do pensamento e ele encontrava-se sitiado num labirinto de inação.

Talvez laborasse num equívoco: ninguém é obrigado à ação contínua. Se assim fosse, seríamos feitos de uma matéria diferente e o tempo em que somos feitos não teria um lugar destinado ao descanso. Começava a revelar o avesso do negativo que justapunha a penumbra à luz timorata que ateava os dias: a consternação será apenas um lúdico desvio de outros cometimentos que anda a postergar – esta foi a hipótese levantada. O adiamento conferia o fingimento necessário para fugir ao que poderia ser a solene declaração de autonomia de todas as partes de si que representam uma dependência. Havia umas quantas a inventariar.

A demanda não cessava de desfilar nas costuras do horizonte – e as costuras, apenas o formato que é limítrofe à demanda, aparecem mais vívidas que o demais. A certa altura, despontou uma centelha de esperança. (E a esperança não se recusa, assim mandam as convenções recomendáveis.) Ouviu, em surdina, uma voz tentacular a ciciar: “pega num ramo de oliveira – pega num ramo de oliveira”, a segunda vez já com voz mais enfática, sílabas compassadas, numa métrica articulada, como se fosse uma mnemónica para o caso de deixar cair a recomendação nas águas-furtadas do pensamento. Que serventia teria o ramo de oliveira? O que dele podia fazer para resolver as pendências que teimavam em escurecer o chão que era paradeiro dos seus pés?

O ramo de oliveira – descobriu, depois de diligente investida nos manuais da significação – é metáfora da paz. De repente, descobriu que não estava em paz consigo. Todas as pendências anteriores perdiam cabimento. Agora, só havia uma pendência a descolorir os dias em espera. Tinha de arranjar as armas que aferissem a paz interior. Haveria de se deslocar à primeira oliveira para resgatar um ramo, que seria tatuado na pele. Agora, desconfiava que as anteriores pendências disfarçavam o sobressalto interior, as águas agitadas que impediam a letargia. 

Ficariam por confirmar as propriedades lisérgicas do ramo de oliveira. Oxalá o juramento não ficasse órfão na dilação do encorajamento.

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