De tanta pequenez que nos apoquenta, vertemos a esperança em figuras que se prometem míticas no futuro. Estas personagens estilhaçam os padrões estabelecidos – no caso da paisagem política, rompem o monopólio dos partidos, colhendo frutos no cansaço que as personagens de sempre causam nos cidadãos e tirando partido dos fracos pergaminhos dos regentes que se sucedem e perenizam o passado.
Os promitentes mitos têm lucidez. Observam meticulosamente o que os rodeia. Participam no coletivo esgar de desprazer à medida que os de sempre alternam na regência e os problemas que mergulham a sociedade num, ao que parece, irremediável atraso não encontram patentes que os resolvam. Aparecem, uns do nada, outros de uma coisa qualquer em nada aparentada com a paisagem política. E como não participam da oligarquia dos partidos, cativam as preferências de muitos que estão insatisfeitos com o atual estado das coisas.
Prometem diferença, apenas. Não é promessa que devesse ser suficiente para atrair uma multidão. Anunciando-se a antítese das personagens que nada resolvem, esperam ser fieis depositários de um povo desesperançado. Um povo que aprendeu a apostar em figuras providenciais que, depois, se dissolvem num conveniente nevoeiro que as embaciou. Os que precisam deste providencialismo como oxigénio partem de uma lógica de mínimos: a alternativa às promitentes figuras providenciais é continuar a escolher os de sempre, que cada vez menos merecem confiança. É uma reação por antinomia. Sem se saber, ao certo, que ideias têm essas figuras providenciais caso lhes seja mandatado o poder. É uma aposta no escuro. Uma proposta minimalista.
É uma lógica reveladora de dois sintomas graves. Primeiro, a alternativa aos habituais detentores do poder manifesta-se não pela qualidade, mas pelo desgaste destes e pela procura de uma qualquer alternativa, sem ter o cuidado de sopesar a validade dessas alternativas através do que elas possam ter de substancial. Não é um escolha genuína, é uma apenas escolha fundamentada na recusa de alguém. Os habituais detentores do poder são os primeiros culpados pela aparição (a palavra não é inocente) das messiânicas personagens cheias de vazio.
O fenómeno encerra um segundo sintoma inquietante: a incapacidade (ou a ignorância) de os promotores de providenciais personagens aprenderem com a História. Que seja nomeado uma única messiânica figura que tenha conseguido superar o estatuto de promessa, todavia depressa fracassada nos escombros a que as suas intenções foram reduzidas. No máximo, os messianismos do passado tiveram o condão de fazer marcar passo o presente e de adiar, sempre adiar, o futuro.
Vamos de messianismo em messianismo, insatisfeitos com a casta de regentes e apostando em personagens providenciais que não personificam alternativa válida. Quando uma personagem providencial acaba por fracassar, a consequência é o refúgio na casta de sempre. Os habituais detentores do poder acabam por ser a reserva moral de si mesmos, num processo que tem tanto de paradoxal como de absurdo. Os mitos que não se cumprem obrigam as bases a voltar ao pecado original. Os messianismos são a melhor caução dos poderes estabelecidos.
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