Era preciso um túnel da morte para atirar a mota contra a lei das probabilidades. Desafiando a morte. Concebendo a loucura na sua indigência. Mas quem podia de si dizer que fora sempre um exemplo de virtudes?
Era preciso meter em cestos toda a vindima, não deixando de parte parte alguma do vindimado. Separando as parras das uvas, os gaipos meticulosamente sindicados à procura das uvas que pudessem ser postas de parte para a colheita tardia. Pois é essa madurez em estado de pré-podridão que desembainha a doçura mais extravagante, deixando na boca a certeza de que o envelhecimento pode adiar o prazo de validade.
Era preciso convocar os fantasmas que voejavam de um lado para o outro, hiperativos, insistentes, maquiavélicos. Se lhes fosse dito que não eram razão de medo, e se fosse dito com convicção, talvez os fantasmas fossem ocupar outro território onde outras fossem as almas intimidadas. Talvez fossem enganados pela contundência da proclamação, se não fossem duvidar da legitimidade do nosso desmedo.
Era preciso abandonar as hipóteses que se antepõem nas varandas que descem até ao mar, para terminarem exauridas. Era preciso encontrar a orquestra para o maestro não ficar melancólico. Era preciso definir as fronteiras para as deixar abertas para toda a gente. Era preciso abolir as regras que são um descontrato social. Era preciso coibir o destrate das almas, à mercê de uma mal disfarçada complacência que não conseguia esconder a prepotência com que o poder era viciado. Era preciso saber dizer as palavras em falta, contra o medo que o medo tabelava.
Era preciso entrar na VCI e sair em todas as saídas, para depois voltar a entrar e percorrê-la uma vez final (até à próxima vez). Dar-se-ia o sequestro da cidade, mas era um sequestro benevolente. Por maior que fosse a estrada circular, se metodicamente desvinculada servia para olhar de fora para a cidade. Era a oportunidade para sermos forasteiros na nossa própria cidade.
Era preciso desentulhar as caves da memória, que esse pensamento será precioso para não nos apequenarmos pelas cicatrizes avivadas pela cal do medo. Era preciso ter muitas VCI para termos um balão de oxigénio contra os feitores de monotonia que estão sempre dispostos a pagar por esta para não serem desafiados pelo que ainda há por revelar. A tempo de ativar a adrenalina contra o mofo das cicatrizes, contra a estultícia de quem se atira para a frente do tempo com a certeza de que tudo são certezas.
Sem comentários:
Enviar um comentário