7.2.23

O xisto da noite

Placebo, “Where Is My Mind” (live in Paris), in https://www.youtube.com/watch?v=ugjQ8mjQRhw

Teoria das espécies protegidas: a raridade exige a intencionalidade da proteção (e não apenas uma promissória que é só uma moda). Muitos são consumidos pelo seu incorrigível narcisismo. Sentem-se as peças centrípetas do universo. E espécies únicas, sujeitas às melhores leis da proteção das espécies em vias de extinção.

Muitas vezes, ao deitar os olhos nestas personagens, mal apetece pressagiar que antes estivessem em extinção. Libertariam espaço para um ar mais respirável. Que ninguém os convença que são tão banais como os mais banais de todos nós. Imersos no seu centrípeto lugar, aparecem contaminados por alucinações. São peritos num julgamento de si mesmos que peca por excesso. Não estão em extinção, pelo contrário. Se um deles se perder no inventário da espécie, não são perda contabilizada nos registos da antropologia. Serão uma dádiva para os demais, se extintos ou reservados à irrelevância. 

Os engenheiros de almas podem usar estes espécimes como caso de estudo, para melhor entenderem no que gravitam as almas que se ajuízam locatárias de um estatuto superior, no auge dos pressentimentos em que firmam os delírios. É como se estivessem sentados num pedaço de xisto, à noite, e conseguissem decifrar o que está escrito em contrafação. Não conseguem. Limitam-se a inventar, constituindo um logro só não reconhecido pelos próprios. 

Sem olhos de gato, ninguém consegue ler um conjunto de letras informes inscritas no xisto. Falta claridade para avivar essas letras. Mas os alucinados que contestam os que os contestam dão um salto em frente, inventando significados, arrumando teorias inverosímeis no corrimão que segura os mais frágeis. E frágeis somos todos, os que passeiam a sua obnóxia condição de entes predestinados e os que não se acreditam nesta linhagem de farsantes. Frágeis somos, quase sempre no limiar de um qualquer precipício.

Os que chamam a si a notabilidade como estatuto estão a milímetros de dar um passo à frente – um passo em falso. Não é perda, nem é partida. Apurado o balanço, entre danos e ganhos, é um balão de oxigénio para a espécie, que adia o seu estertor. Podemos ajudá-los a darem o passo em frente, como gesto de desapaixonada generosidade (antropológica).

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